As personas de David Bowie – Parte 4: O sinistro Duque magro e pálido

NA-NU apresenta aqui uma lista detalhada dos principais personagens presentes nas canções, nos palcos e na história de David Bowie. Na quarta parte, a mais polêmica persona de Bowie, o Duque magro e pálido.

Essa é a quarta parte dessa série de posts, veja a primeira parte sobre Major Toma segunda sobre Ziggy Stardust, e a terceira sobre Halloween Jack e o mundo futurista de Hunger City.

Studio na Colab55

Em 1975, durante a promoção de seu álbum Young Americans, surge provavelmente o mais controverso personagem de David Bowie. O colorido de suas primeiras personas foi substituído pelo preto e branco de um personagem interessado em misticismo, cabala e nazismo. A Persona mais obscura de Bowie tomava forma no Thin White Duke, o Duque magro e pálido, apresentada no aclamado álbum Station to Station em 1976.

Station to Station abre com a canção título, uma epopeia de 10 minutos, narrando a chegada do Duque para mudar o rock e o soul americanos com sua visão européia. O Duque é frio e cruel, impiedosamente destruindo os sonhos de jovens amantes e atirando dardos em seus olhos. A canção faz referência à Próspero, feiticeiro na peça A Tempestade de William Shakespeare. Mago que é consumido por sua própria magia e à renuncia ao final da peça. A canção segue fazendo referências à cabala e à obra de Aleister Crowley, Manchas Brancas. A seguir a música explode em um grito por significado, em uma busca sem fim e fadada ao fracasso por algo em que acreditar. Tema repetido por todo o álbum, como um pedido de ajuda.

A transformação de Bowie no Duque começa em 1975 quando se muda para Los Angeles. Durante esse período, Bowie se manteve em uma dieta de refrigerantes, leite e cocaína. O artista desenvolveu uma obsessão pelo oculto, queimando velas negras em seu apartamento, e pela mitologia fascista. Visualmente, o Duque era uma extensão de Thomas Jerome Newton, o extraterrestre que ele interpretou no filme The Man Who Fell to Earth do mesmo ano. Newton era um deslocado alienígena, tentando se passar por humano. Newton logo se torna corrompido pelos prazeres e cobiças da sociedade. Bowie usou as bases de Newton para criar o Duque, e representar sua rápida decadência ao seu lado mais obscuro.

David Bowie interpretando Thomas Jerome Newton, em The Man Who Fell to Earth

Assim como Ziggy Stardust, Bowie realizava entrevistas e aparições públicas sob a persona do Duque, chegando a dar declarações que chamavam Adolf Hitler de “um dos primeiros rock-stars, quase tão bom quanto Jagger“. Em Estocolmo, foi creditada à Bowie a frase de que “a Grã-Bretanha poderia beneficiar-se de um líder fascista” e posteriormente ele foi preso pela alfândega na fronteira Rússia-Polônia por posse de parafernálias nazistas.

Seu problema com a cocaína tornou-se público quando Bowie foi entrevistado por Russell Harty no programa London Weekend Television, numa antecipação da turnê do álbum Station to Station. Sua sanidade tornou-se distorcida pela cocaína e ele sofreu overdoses durante todo o ano, além de perder peso de maneira alarmante.

Mais tarde, o músico se arrependeu por seus comentários pró-fascismo e seu comportamento durante o período de vícios e do personagem Thin White Duke.”Eu estava fora de mim, totalmente enlouquecido. As únicas coisas das quais eu estava ligado eram mitologia… aquela coisa toda sobre Hitler e o direitismo… Eu descobri o Rei Artur…” De acordo com o dramaturgo Alan Franks, escrevendo mais tarde no The Times, “ele realmente estava demente” e teve experiências muito ruins com drogas pesadas.” Em seu futuro projeto de banda, Tin Machine, que durou de 1989 à 1991, Bowie fez letras atacando sua experiência com as drogas e denunciando o fascismo e o o aparecimento de neo-nazistas, assim como a manipulação política na televisão.

Em 2004, em entrevista ao programa 7:30 Report, David afirma sobre o Duque que “Foi tudo muito direcionado pela cocaína. Eu caí naquela armadilha da magia negra e de toda aquela cultura do Crowley que marcou aquele ponto da metade da década de 70. Eu fui muito desorientado por tudo aquilo. No final eu só precisava me levantar e terminar a minha associação com a cocaína. Porque eu não podia mais funcionar normalmente como um ser humano. Eu não conseguia comer, era terrível. Me surpreende que eu tenha conseguido sobreviver à esse período.”

Com ajuda de seu amigo Iggy Pop, Bowie conseguiu se recuperar de seu problema com a cocaína e se mudou de Los Angeles. O Duque não teve uma morte abrupta ou uma despedida como Ziggy Stardust. O personagem desapareceu aos poucos, e se tornou uma espécie de agouro na carreira de Bowie.

Na citada entrevista em 2004 ao repórter Kerry O’Brien, para o 7:30 Report, Bowie afirmou que “O meu trabalho, composto naquela época é surpreendente muito bom. Alguns poderiam afirmar que eu não teria conseguido escrever todas aquelas coisas se você não estivesse usando drogas. Mas eu duvido que isso seja verdade, porque eu realmente acho que as melhores coisas que eu escrevi naquele período foram depois que eu já estava limpo. Então acho que isso descredita essa teoria”

Fica ligado no NA-NU para conferir a próxima parte dessa série de posts sobre as personas do mestre David Bowie. Na quinta e última parte, Rainbowman, Pierrot e Button Eyes

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