O NA-NU apresenta aqui uma lista detalhada dos principais personagens presentes nas canções, nos palcos e na história de David Bowie. Na segunda parte, o alienígena messiânico Ziggy Stardust.
Essa é a segunda parte dessa série de posts, veja a primeira parte sobre Major Tom
O mais popular e icônico personagem de David Bowie marca também um novo passo no sentido cênico da apresentação do músico. O alter ego alienígena messiânico e andrógino, de pele branca e maquiada, com cabelos espetados vermelhos “como um gato do japão” chocou e gerou reverência em 1972. Até então, mesmo com todo o experimentalismo e inovação na música popular nos anos 60, poucos artistas haviam explorado a interpretação de personagens dessa maneira.
A história narrada por músicas como Starman e dos aclamados álbuns The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars e Aladdin Sane, é a de um planeta terra à cinco anos de sua auto destruição. Ziggy é um ser metade alienígena, metade humano, que se torna um rock-star pouco depois dessa revelação. Ele prega sobre um homem que retornará do espaço para salvar a humanidade (possivelmente Major Tom), mas é morto, antes disso, por seus fãs.
David Bowie afirma que a criação de Ziggy foi o resultado da “coleção de personalidades” como Vince Taylor, Iggy Pop e Lou Reed para a criação do rock-star definitivo, idealizado e extra-terrestre. Bowie havia conhecido Iggy e Lou em viagem aos EUA e retornando à Inglaterra, declarou a intenção de criar uma personagem “que parecesse que havia chegado de Marte.” Em 2004, em entrevista ao programa 7:30 Report, David afirma que “Eu estava tentando criar uma ideia que expandisse a ideia de rock. Então assumi esse forma alienígena com Ziggy. Eu me baseei em conceitos japoneses. Naquele período particular do início dos anos 70 nós sabíamos tão pouco sobre o Japão, pouco era conhecido no ocidente. Ainda nos parecia uma sociedade alienígena. Mas era uma sociedade alienígena humana. Então uma conexão humana era muito mais possível do que, por exemplo, com Marte.”
Em junho de 1987, em entrevista para a BBC, Bowie afirmou que “Escrever músicas para artistas como Iggy Pop e Lou Reed sempre foi muito fácil pra mim. Era fácil entrar no clima deles e fazer o que eles queriam. Para mim já era um pouco mais difícil. Então eu precisei criar o artista para quem eu ia escrever, e Ziggy veio para isso”.
Bowie inaugurou a apresentação de Ziggy Stardust com os The Spiders from Mars num pub chamado Toby Jug em Tolworth, em 10 de fevereiro de 1972. Em apresentações extremamente teatrais, muitas vezes utilizando elementos da mímica aprendida anos antes com Lindsay Kemp, e cheias de momentos considerados na época extremamente chocantes, em cenas nas quais Bowie simulava um sexo oral na guitarra de Mick Ronson. Com sucesso incrível na Inglaterra, a Ziggy Stardust Tour continuou pelos Estados Unidos. David Bowie começou a se apresentar como Ziggy não só nos palcos, mas em entrevistas, aparições públicas e mesmo em momentos privados. “Eu carrego os personagens comigo em entrevistas para os jornais, no palco, fora dele. Sempre que há mídia à volta”. Bowie afirma que seus problemas em separar o personagem do artista começaram com Ziggy. “Fora dos palcos sou um robô. No palco eu adquiro emoção. Provavelmente por isso que prefiro vestir-me como Ziggy do que como David.” David ainda diz que “Ziggy não me deixava sozinho durante anos. Foi quando tudo começou a azedar… Minha própria personalidade como um todo havia sido afetada. Tornou-se muito perigoso. Eu realmente tinha dúvidas sobre minha própria sanidade.”
A última apresentação de Ziggy Stardust, no Hammersmith Odeon, Londres, em 3 de julho de 1973 pode ser vista no filme Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, dirigido por D. A. Pennebaker. “Foi incrível, a coisa toda durou apenas 18 meses. (…) E eu pensei, é isso, está acabado, eu não quero ser aprisionado por tudo isso.”
Apesar de sua morte, Ziggy faria pelo menos mais uma aparição durante a carreira de Bowie. No videoclipe dirigido por Floria Sigismondi de Little Wonder, do álbum Earthling, de 97, um ator, e não Bowie, interpreta Ziggy como um alienígena perdido e fora de sincronia com uma Londres supersônica.
Apesar de, tecnicamente, ser um novo personagem, Aladdin Sane era essencialmente o sucessor espiritual de Ziggy Stardust em sua aparência e persona. Descrito pelo próprio Bowie como “Ziggy vai à América”, contém canções que ele escreveu durante a tour pelos Estados Unidos e Japão para promover The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. Mais tarde, David Bowie contaria a amigos que a faixa-título do álbum fora inspirada pelo seu irmão Terry, que fora diagnosticado como esquizofrênico. A capa do álbum, que mostra Bowie com uma maquiagem de raio sobre sua face, vista como uma de suas imagens mais icônicas, representa a dualidade mental e foi ideia do artista.
Alladin Sane trouxe músicas marcantes na carreira do cantor como The Jean Genie, Drive-In Saturday e Let’s Spend the Night Together, cover dos Rolling Stones.
Fica ligado no NA-NU para conferir a terceira parte dessa série de posts sobre as personagens criadas por Bowie, sobre Halloween Jack e a futurista Hunger City.
Quer mais arte, cultura e entretenimento? Continue NA-NUZEANDO!!