Poesia no NA-NU – Lobotomia, por Lirah

A sessão de poesia do NA-NU estréia com este visceral desabafo enviado pela poetiza Lirah, Lobotomia:

É a raiva guardada
É o riso contido
É o sangue teu que é só teu
Não é meu
É a culpa que é tua
E só tua
É o peito apertado de não poder ligar
É o choro contido na cama de alguém
E a fome de canil
É o cheiro de sangue no ar
É a dor nas costas nas solas
Nas sobras
Na falta
Na ausência
É o olhar no espelho do teto… se perder e não saber quem é
Quem bate na porta
Eu torta
Armada
Sangue nos olhos de quem quer ficar
E a porta quem abre
Não eu nem você
O vento lento
Caminha pelos vãos de cada canto da tua casa rua taça que eu não passei
A poeira de estrela de estalo que se ouve sem querer taaaaa um estalo terrível audível pra quem quis ver
E agora quem sou eu se não você
E você
O que vem a ser
Ferido pelas mãos que um dia te fez calar boca de tanto Tesao
Confiar confiar sem razão
A garganta seca rasgada e o rouco da voz que gritou e você não ouviu
Garganta no no e os dedos em volta do pescoço agora apertando o gatilho quem sou eu se não você
Eu sinto e te sinto em algum lugar que não sei
Eu vejo e te vejo quando olho no espelho encarando minha face de puta cara e o monstro que eu criei por vc
O dedo que aponta agora enlaça uma corda uma faça uma lança um lança um lance romance gatilho batido estalo p quem quis ver
Respeito aquele que exigi de você que você descumpriu sorriu e riu com gosto do meu desgosto retorna a você duas vezes mais cobra e cobra rasteja distila veneno onde você se escondeu
Respeito aquele que eu tenho que eu tive por você por teus segredos e conquistas que você não viu só cobrou e sobrou as palavras ditas machucando mais que essa fina navalha que a pele agora te corta te enlaça, o céu o véu que eu não levantei
É a fina nuance do meu abstrato ser o teu concreto, é quando eu concreto você ponte quando eu ponte você piada quando eu piada você risada quando eu risada você cara fechada
E é meu mundo que chama por mim que clama por mim que tem sangue suor gozo lágrimas fome e mais sangue e a câmera apontada pra falha o céu da minha boca o gelado da ponta do gatilho da faca enfiada que você torceu e nem viu
A cidade queimada o breu a montanha a árvore a festa no meio do nada
O sexo lateja minha cabeça louca não choro não quero a não ser quando abro as pernas e lento lembro que você é o melhor
É a dor dos doentes dou loucos das bêbadas das fúteis das viúvas que eu resolvi carregar
É a dor da morte que carrego e me calo e mais ouço e mais vejo do que falo ou escrevo
É a frieza que você me ensinou e eu não tinha
É o calor da minha pele e alma que dilacerada pedia por você um carinho uma mão um abraço e você negou
E é os textos que eu não termino porque de repente lembro que você causador de todo mal da terra se esconde bem longe guardado e pensando que a culpada fui eu dos textos inacabados dos tragos roubados das roupas rasgadas do filme no fim
Porque meu deus é mais forte que o seu pois sou eu, não você, no espelho salvo a neurose não sobra nada que não meu próprio olho
Teu olho coisa mais linda água rasa distante fria de tigre albino patas grandes na patinha tua pet tua musa tua incerteza eterna teu peso de não ser bom o bastante o tanto suficiente pra salvar a si mesmo dos meus olhos que tudo bem tudo vê, e eu de olhos fechados te sigo presinto chegando aqui abrindo a porta devagar pedindo desculpa fazendo pela primeira vez carinho no escuro massageando a dor que você mesmo causou
De olhos fechados te quero bem longe cada vez mais distante quem sabe morto torto ou um Porto Seguro de alguém
Sentindo a música do outro lado da pista pensando em mim e nas entrelinhas que você não leu
Percebendo que sou mais que você que você perdeu
E a mansa reação logo após a polícia tem algo aí q não é meu é teu
Percebendo o alarde o alarme do despertador que fui eu
É com pressa disléxica digo adeus pela última vez e dessa vez pra valer jurei fechar a porta te trancar pra fora engolir a chave e engatilhar engatinhar mas não mais rastejar
Agora é tarde não sou prisioneira, sou feiticeira, estourei uma bomba e não olho pra trás
Trás que te traz, paz olho na nuca é só pra quem vai

Lirah

Studio na Colab55

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