Na quarta e penúltima parte da nossa série de textos sobre o Tokusatsu vamos explorar as versões americanas de criações do gênero.
Como vimos nas primeiras partes dessa série de textos (Parte 1, parte 2, parte 3), o Tokusatsu sempre sempre teve como característica um diálogo entre a cultura cinematográfica e televisiva japonesa e estadunidense. Após a segunda guerra mundial, graças a um forte investimento dos EUA, a cultura americana e o cinema hollywoodiano se tornaram extremamente populares no Japão. E foram filmes de ficção-científica e de monstros norte-americanos dos como King Kong ( de 1933), Mundo Perdido (The Lost World de 1925) e O Monstro do Mar (The Beast from 20,000 Fathoms de 1953) que influenciaram a criação de Godzilla em 1954 e toda a onda de monstros gigantes, pontapé inicial para o gênero Tokusatsu e criou o sub-gênero que ficou conhecido como Daikaijū. Além disso, falamos da influência de heróis estadunidenses como Super-Homem, Cavaleiro Solitário, Batman, Zorro e Robocop na criação do Henshin Hero, sub-gênero do Tokusatsu, focado nos super-heróis. Vimos também que, desde o lançamento de Godzilla nos EUA, a indústria norte-americana altera e adapta as obras produzidas no Japão para maior aceitação comercial do público ocidental, adicionando cenas com atores norte-americanos e mudando elementos da trama. Mesmo a versão completamente alterada e reformulada do Homem-Aranha japonês, de 1979, ou as aparições de King Kong em Kong Vs Godzilla, de 1962, e Kong Escapes, de 1967, da Toho, são bons exemplos da conversa Japão/EUA que acontece através do Tokusatsu.
Além disso, obras japonesas nascidas do Tokusatsu viveram histórias paralelas no ocidente. O rei dos monstros Godzilla tem uma história particular com os Estados Unidos. A primeira versão ocidental de Godzilla foi a série de animação The Godzilla Power Hour. Uma co-produção da Hanna-Barbera com a Toho Co. Ltd, que colaborou na produção, realizando conceitos de monstros e animações. No desenho, Godzilla ajuda a rede de pesquisas U.S. Calico a enfrentar outros monstros. A série estreou antes no Japão, em 1977, e em 1978 nos EUA e teve duas temporadas.
Come With Me, versão de Kashmir, do Led Zeppelin, de Puff Daddy e Jimmy Page, trilha sonora de Godzilla, de 1998
Em 1992 o produtor e distribuidor Henry G. Saperstein começou negociações com a Toho para adquirir os direitos de Godzilla para uma produção norte-americana. Porém o filme Godzilla, dirigido por Roland Emmerich, só viria a ser lançado em 1998. A primeira encarnação do rei dos monstros no cinema hollywoodiano era uma reinterpretação radical do personagem tendo sua origem, historia e aparência completamente alterada. Nessa versão, Godzilla é uma iguana mutante, resultado de testes nucleares no oceano Pacífico, que ataca a cidade de Nova York. O filme não foi bem recebido por críticos e fãs do monstro.
Em dezembro de 1998 a Fox Kids estreou Godzilla, a série, produzida pela Adeliade Productions. O desenho apresentava uma continuação direta do filme Godzilla da Tristar Pictures. Sendo o Godzilla do título filho do monstro do filme. A estrutura da série também se inspirou bastante na formula da animação do monstro produzida pela Hanna-Barbera nos anos 70. Também apresentando Godzilla como um “ajudante” de uma equipe de cientistas que combate outros monstros. Apesar do fracasso comercial do filme de 1998, a série animada obteve sucesso de audiência e foi elogiada por fãs e críticos.
Em 2001, na produção da Toho, Godzilla, Mothra and King Ghidorah: Giant Monsters All-Out Attack é explicado em diálogo que os EUA teriam sofrido um ataque em 1998 por um monstro gigante que eles acreditaram ser Godzilla, porém se tratava de outro monstro, menor e mais fraco. O monstro americano é rebatizado Zilla e chega a enfrentar sua contra-parte oriental no filme Godzilla Batalha Final, de 2004.
Em 2014 a Legendary Pictures em co-produção com a Warner Bros. Pictures lançaram Godzilla, mais uma reinterpretação hollywoodiana, dessa vez muito mais fiel ao conceito original, do rei dos monstros. O filme é dirigido por Gareth Edwards e estrelado por Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Bryan Cranston, Juliette Binoche, David Strathairn, Sally Hawkins e Ken Watanabe. No filme, Godzilla é apresentado como uma força da natureza quase indestrutível que luta por seu território, o planeta terra, contra outros monstros invasores, batizadas M.U.T.O. O filme alcançou críticas muito mais favoráveis do que seu homônimo de 1998. Poucos dias após a estréia e o alto faturamento, a Warner Bros e a Legendary Pictures oficializaram os planos de sequência para Godzilla, e Gareth Edwards deve retornar como diretor. O filme faz parte de uma nova série de filmes das produtoras com monstros gigantes, do qual também faz parte Kong: A Ilha da Caveira, de 2017. Na cena pós-créditos de Godzilla aparecem indícios de que Rodan, Mothra, e King Ghidorah estarão presentes na série.
Na década de 1990, a empresa norte-americana especializada em brinquedos e entretenimento infantil, Saban Entertainment adquiriu com a Toei os direitos da série Super Sentai, Esquadrão Dinossauro Zyuranger (Kyoryu Sentai Zyuranger), de 1992, com o tema dinossauros, em alta na época (Apesar de entre os cinco personagens principais, apenas dois serem realmente dinossauros já que o tigre-dente-de-Sabre e o mamute são mamíferos e o pterodátilo ser um pterossauro, que não é exatamente um dinossauro. Sobram o tiranossauro rex e o triceratope). Com elenco formado por atores norte-americanos inseridos na edição, nascia a série Mighty Morphin Power Rangers, uma adaptação das séries Super Sentai para o público americano. As cenas com atores americanos foram produzidas pela Saban, porem todas as cenas dos Power Rangers combatendo monstros em seus uniformes, assim como as lutas de monstros e robôs gigantes são imagens recicladas de Super Sentai, Esquadrão Dinossauro Zyuranger da Toei. Mighty Morphin Power Rangers, estrou em 1993 e era um dos carros chefe do blog Fox Kids, exibido no canal Fox, que também incluía Os Animaniacs, Tiny Toon, Batman The Animated Series, Spider-man The Animated Series e X-Men The Animated Series. A série alcançou extrema popularidade no mundo todo, inspirou já três longa-metragens e já se encontra em sua 23ª encarnação.
Com o sucesso de Mighty Morphin Power Rangers, a a Saban repetiu a fórmula criando outras séries com base em produções japonesas. A segunda foi Masked Rider, utilizando imagens de Black kamen Rider, VR Troopers, que se apropriava de três séries, Superhuman Machine Metalder, Dimensional Warrior Spielban e Space Sheriff Shaider, e Big Bad BeetleBorgs, adaptação das séries Juukou B-Fighter e B-Fighter Kabuto. A Saban ainda produziu outras séries nos moldes de Power Rangers como The Mystic Knights of Tir Na Nog, no Brasil, Os Cavaleiros da Magia, inspirado em mitologia irlandesa e a série live action das Tartarugas Ninja, Tartarugas Ninja: A Próxima Mutação, exibida em 1997 e 1998.
Acompanhe o NA-NU para a quinta e última parte dessa série de posts, o momento atual do Tokusatsu. Quer mais arte, cultura e entretenimento? Continue NA-NUZEANDO.