Neil Gaiman se tornou ícone da cultura atual tendo obras como Coraline, American Gods e Stardust adaptadas para o cinema e para a TV. Mas foi com Sandman que o autor entrou para a história dos quadrinhos e foi reconhecido como grande gênio.
No final dos anos 80, inspirados pelo sucesso comercial de obras como Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller e A Piada Mortal, de Allan Morre, a editora norte americana de quadrinhos, DC Comics, buscava por novos roteiristas talentosos. Em sua maioria jovens britânicos. Aproveitando a recém publicada Crise nas Infinitas Terras, série que redefiniu o universo ficcional da DC, a editora buscava autores aptos à reinventar o universo de suas publicações. Com isso (re-)nasciam séries excelentes como Homem-Animal, de Grant Morrison, O Monstro do Pântano de Allan Moore e Sandman de Neil Gaiman. Obras que estão entre as mais influentes da história recente dos quadrinhos. As publicações foram sucesso de público e crítica e levaram a DC a criar a linha Vertigo de quadrinhos adultos.
Gaiman havia chamado atenção da editora com as incríveis graphic novels Violent Casese A Comédia Trágica ou a Tragédia Cômica de Mr. Puch, ilustradas por seu parceiro de longa data, Dave Mckean. Em 1987, a DCpublicou Orquídea Negra, escrita por Gaimane ilustrada por Mckean. Karen Berguer, que mais tarde se tornaria diretora da Vertigo, ofereceu a Gaiman a oportunidade de reinventar um personagem do universo DC à sua maneira.
The Sandman foi um título usado em duas publicações anteriores da DC, a princípio, não relacionadas. Sandman nasceu como o detetive Wesley Dodds em 1939. Na década de 70, o nome Sandman ressurgiu como um super herói criado por Joe Simon e Jack Kirby. Neil Gaiman utilizou elementos das duas publicações, envolvidas em um turbilhão de referências à mitologia, história, literatura e cultura popular pra criar sua versão de Sandman.
As histórias giram em torno de Sonho, um dos sete irmãos Perpétuos. Os outros Perpétuossão o misterioso Destino, a simpática Morte, a/o manipuladora/o Desejo, a acolhedora Desespero, a problemática Delírio e o exilado Destruição. A série tem como base uma característica muito presente no trabalho de Gaiman, a antropomorfização de entidades metafísicas. Outra característica são os elementos históricos e mitológicos. O universo de Sandman é povoado por deuses e lendas, como Odin, Thor, a deusa egípcia Bastet e um Lúcifer assumidamente inspirado em David Bowie, tal qual figuras históricas, como Mark Twain, Marco Polo, William Shakespeare e até John Belushi. Vários artistas ilustraram as histórias de Sandman, entre eles Sam Kieth, Mike Dringenberg, Jill Thompson, Shawn McManus, Marc Hempel, and Michael Zulli, porém, todas as capas são de Dave Mckean. O estilo surrealista de Mckean é fundamental na criação da identidade lírica de Sandman.
Sandman causou repercussão e até hoje é considerada uma das maiores séries da história dos quadrinhos ao lado de obras como Maus, de Art Spiegelman e Watchman, de Allan Moore. Além disso, Sandman foi pioneiro na representação feminina e LGBT nas HQs. Em uma época onde a maioria das personagens gays ou transexuais eram mostrados como caricatos ou trágicas vítimas da AIDS, Gaiman nos trouxe personagens como Wanda, mulher trans filha de uma família extremamente religiosa e conservadora. Ou Fox Glove, cantora que sofre pressão para esconder seu relacionamento com sua parceira Hazel. E Hal, zelador de um prédio que se apresenta em performances como drag queen.
A série original teve 75 edições e foi publicada de 1989 à 1996 e teve vários spinoffs como as mini-series Morte O Preço da Vida (que inaugurou a linha Vertigo), Morte O Grande Momento da Vida, Sandman Teatro do Mistério, os livros infantis Os Pequenos Perpétuos entre vários outros. Em 2003 foi lançada a publicação Sandman: Noites Sem Fim que trazia sete novas historias escritas por Neil Gaiman e ilustradas por Dave McKean, P. Craig Russell, Milo Manara, Miguelanxo Prado, Barron Storey, Bill Sienkiewicz, Glenn Fabry e Frank Quitely.
No brasil, a série original foi publicada diversas vezes. Entre 1989 e 1998 em seu formato original de revista pela editora Globo, mais tarde por editoras como Metal Pesado, Tudo em Quadrinhos e Escala, em encadernações pela editora Conrad e, finalmente, pela Panini entre 2010 e 2013 com Sandman – Edição Definitiva.
Ótima matéria. Parabéns.
Muito obrigado, Jorge.