O NA-NU indica duas obras extremamente importantes da história dos quadrinhos que abordam a temática do nazismo, Maus, de Art Spiegelman e O Complô, de Will Eisner.
Will Eisner dispensa apresentações. Mestre máximo dos quadrinhos, o autor dá nome ao maior prêmio da industria dos quadrinhos norte-americanos, o Will Eisner Comic Industry Award, conhecido como Eisner Awards e criador do detetive Spirit. Will Eisner foi um dos pioneiros das Graphic Novels com sua obra Um Contrato com Deus, que fala da vida no bairro Bronx, nos anos 30. Eisner era filho de judeus imigrantes oriundos do Império Austro-Húngaro, nasceu nos Estados Unidos, no bairro do Brooklyn, em Nova York. Eisner abordou a história dos judeus e de sua própria família como temática em várias de suas histórias. Em obras como Um Contrato com Deus (1979), O Edifício (1987) e Nova Iorque: A Grande Cidade (2000), Eisner explorou como cenário a vida dos imigrantes judeus nos EUA. Eisner também abordou de forma bastante auto-biográfica a temática judia e da segunda guerra mundial em Ao Coração da Tempestade.
Sua maior contribuição conta o anti-semitismo, nos esforços em revelar as mentiras do discurso nazista veio porém em sua obra de 2005, O Complô: A História Secreta dos Protocolos dos Sábios de Sião para o qual realizou uma extensa pesquisa documentada e descrita no livro. O Complô trata sobre o embuste chamado “Protocolos dos Sábios do Sião”, um falso documento criado no final do século 19 para influenciar o czar russo a tomar medidas anti-semitas. No falso protocolo, um suposto grupo de judeus influentes descrevia seu plano de dominação mundial, traçado durante um encontro secreto. Tratava-se de um plágio grosseiro realizado por Mathieu Golovinski, russo exilado na França a serviço da polícia secreta do tsar Nicolau II, de um texto escrito em 1864, pelo escritor francês Maurice Joly publicado clandestinamente. Originalmente chamado O diálogo no inferno de Maquiavel e Montesquieu, o livro era uma sátira ao imperador Napoleão III.
O complô conta a história da fabricação dessa farsa, e de como ela se tornou uma das mais duradouras e cruéis peças de literatura anti-semita já produzidas. Will Eisner mostra em O Complô como o texto se espalhou pela Europa e foi fundamental para ascensão nazista. Adolf Hitler o citou os protocolos no livro Minha Luta, e a Ku Klux Klan ganhou força distribuindo cópias do texto nos Estados Unidos.
Nesta graphic novel, concluída poucos meses antes de sua morte, Will Eisner investiga também por que nem mesmo as inúmeras provas que vieram à tona, já na década de 20, de que os Protocolos eram falsos, conseguiram minar sua credibilidade. As histórias em quadrinhos, acreditava ele, seriam uma maneira de levar a um público maior a verdade sobre os protocolos.
A segunda obra história que a gente recomenda é Maus, do quadrinista sueco Art Spiegelman, lançado em 1991. A obra foi vencedora de uma categoria especial do Pulitzer, prêmio norte-americano outorgado a pessoas que realizem trabalhos de excelência na área do jornalismo, foi exposta no Museu de Arte Moderna em Nova York e é citada por diversos críticos como uma das melhores obras já produzidas na história dos quadrinhos. Maus trás um relato auto-biográfico, e narra através de diálogos a história de seu pai, um judeu polonês, em sua luta pela sobrevivência nos campos de concentração nazistas durante a segunda guerra mundial. Sua mãe, Anja Spiegelman, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, cometeu suicídio enquanto Art passava um fim de semana com sua namorada em 1973. Spiegelman relata o traumático evento em Maus. Nesse impressionante relato visual, Spiegelman retrata diferentes grupos étnicos através de várias espécies de animais: Os judeus são os ratos (em alemão: maus), os alemães, gatos, os franceses, sapos, os poloneses, porcos, os americanos, cachorros, os suecos, renas, os ciganos, traças, os ingleses, peixes. A estética subverte peças da própria propaganda nazista, que os judeus como ratos e os poloneses como porcos.
Spiegelman foi uma figura de destaque no movimento alternativo dos quadrinhos nas décadas de 60 e 70, contribuindo para publicações como Real Pulp, Young Lust e Bizarre Sex. Em 2005, a revista Time elegeu Spiegelman uma das 100 Pessoas Mais Influentes do Mundo.
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