Qual é a verdadeira relação entre Kimba, O Leão Branco e O Rei Leão?

Desde o lançamento do longa-metragem de animação da Disney, O Rei Leão, muitos apontam as semelhanças com a obra Jungle Taitei, conhecida no ocidente como Kimba – O Leão Branco. Manga de 1950 transformado em série de anime de Osamu Tezuka em 1965. Teria a Disney se apropriado da obra de Tezuka?

O Rei da Selva (Jungle Taitei – ジャングル大帝, em japonês), mais conhecido no ocidente como Kimba – O Leão Branco, foi uma série de Mangás criada por Osamu Tezuka em 1950, publicado na revista Manga Shonen (Comic Boy). O mangá foi publicado até 1955 e foi transformado em uma série de anime em 1965 produzida pela Mushi Productions, a primeira animação colorida da televisão japonesa.

A história acompanhava Kimba, um filhote de leão cujo pai, o rei da selva, era assassinado. Kimba, longe de casa, sobrevivia com ajuda de amigos aprendia sobre responsabilidade e retornava ao lar para retomar o trono de um malvado leão, com uma cicatriz em um olho, Bubu, com ajuda de sua leoa companheira Léia.

Studio na Colab55

Kimba, se tornaria extremamente popular no Japão, estrelando várias campanhas publicitárias, se tornando mascote do time de basebol, Saitama Seibu Lions, estrelando seu próprio longa-metragem em 1966 e trazendo grande popularidade à Tezuka no japão, ampliada massivamente por sua criação posterior, Astroboy (鉄腕アトム – Tetsuwan Atomu, literalmente, Poderoso Átomo, em japonês). Tezuka ganhou títulos como o “pai do mangá moderno” ou simplesmente Manga no Kamisama (“Deus do Mangá” em japonês).

A admiração de Osamu Tezuka por Walt Disney não era segredo nem sua relação com os estúdios Disney. Frequentemente afirmava em entrevistas que O Rei da Selva teve forte influência de Bambi, longa-metragem da Disney de 1942. Tezuka inclusive trabalhou diretamente com a Disney para adaptar Bambi para o mangá, em 1953. Era um fato também conhecido que Walt Disney, pouco antes de morrer, demonstrou interesse em realizar a produção de uma versão americana para Astroboy, de Tezuka.

Osamu Tezuka morreu em 1989. No mesmo ano, o Tezuka Studios começou a produção póstuma do longa-metragem O Rei da Selva – O Filme (em japonês: 劇場版 ジャングル大帝 – Hepburn: Gekijōban Janguru Taitei), porém atrasos na produção fariam com que o filme só fosse lançado em 1996.

1989 também foi o mesmo ano em que a produção de O Rei Leão começou. A publicidade do filme afirmava ser o primeiro longa-metragem da Disney a apresentar conteúdo 100% original. Apesar da influência de Hamlet, de William Shakespeare, e de produções anteriores da Disney como Bambi e Mogli – O menino Lobo os produtores afirmavam se tratar de uma história inédita, com conceito e personagens criados pelos estúdios Disney. Michael Eisner, diretor executivo da Disney de 1984 a 2005, muitas vezes creditado como o responsável pela renascença da animação da Disney nos anos 90, afirmou no programa O Incrível Mundo da Disney ao anunciar O Rei Leão: “O Rei Leão é único! Ao contrário de nossos outros filmes animados, O Rei Leão não é baseado em nenhuma obra literária ou conto de fada. É um conceito original desenvolvido no departamento de animação dos estúdios Disney“.

Mesmo na pré-produção, O Rei Leão e Kimba – O Leão Branco já apresentavam muitas semelhanças. Um ano antes do lançamento do filme, Roy Disney, irmão de Walt, cita o protagonista de O Rei Leão como Kimba.

O Rei leão foi lançado em 1994, ganhando imediata fama e reconhecimento, se tornou o filme mais lucrativo da história na época e abocanhou o Oscar de melhor trilha sonora, composta por Hans Zimmer e Melhor Canção Original, Can You Feel the Love Tonight, de Elton John e Tim Rice, além o Globo de Ouro de Melhor Filme Comédia ou Musical.

Logo após o lançamento do filme, artistas japoneses enviaram um abaixo assinado com duzentas assinaturas aos estúdios Disney manifestando descontentamento com as familiaridades apresentadas entre O Rei Leão e Kimba – O Leão Branco. Entre as semelhanças estão, por exemplo, o nome dos personagens principais, Kimba e Simba (Simba significa “leão” em Suaíli), a morte do pai dos protagonistas, alguns personagens como o mandril Daniel e o babuíno Raffiki, os pássaros Poly e Zazu e os vilões Bubu e Scar. Takayuki Matsutani, presidente dos estúdios Tezuka, afirmou que “Tezuka teria ficado feliz em ser inspiração para O Rei Leão“.  Tezuka produções seguiu manifestando seu desconforto com as semelhanças entre as duas obras, mas afirmaria não ter fundos para um processo legal. Yoshihiro Shimixu, também dos estúdios Tezuka afirmou “Nós somos uma pequena e fraca empresa. Não valeria de nada… Os advogados da Disney estão entre os vinte melhores do mundo”.Os herdeiros de Tezuka chegaram a mover uma ação contra a Walt Disney Company, para solicitar que ao menos o nome de Osamu aparecesse nos créditos, mas também desistiram.

Em 1994, Matthew Broderick afirmou em entrevista à Austin American “Eu achei que o projeto fosse sobre Kimba, que era um desenho sobre um leão branco que passava quando eu era pequeno. Então saí falando que eu iria interpretar Kimba. Eu não sabia muito a respeito, mas não me importava realmente”

Em 1997, quando Julian Grant, organizador do Fantasia Film Festival, de Toronto, realizou a exibição de O Rei da Selva – O Filme no festival. Julian recebeu uma intimação judicial da Disney ordenando o fim da exibição do filme. Apesar de O Rei Leão ter saído antes, os dois filmes haviam começado sua produção em 1989. Aquela seria a única exibição norte-americana que o filme teria.

Até hoje, O Rei da Selva – O Filme não teve lançamento oficial no ocidente. Apesar de não ser um fenômeno global como O Rei leão, Kimba é até hoje um forte ícone no japão. No Brasil a série de TV de 1965 Kimba – O Leão Branco foi exibida pelo canal Tupi nos anos 70 e 80, e pelo Boomerang em 2005. Em 2015 a NewPOP Editora publicou os primeiros volumes do mangá com o nome de Kimba – O Leão Branco.

 

O Rei Leão ganhou duas continuações O Rei Leão 2 – O Rei Simba e O Rei Leão 3 – Hakuna Matata, ganhou a série de TV Timão e Pumba e inspirou uma infinidade de produtos, parques, musicais, brinquedos e videogames.

 

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