Pai Mei é um dos mais populares personagem do épico Kill Bill, de Quentin Tarantino. Porém essa não é a primeira aparição do personagem no cinema e suas origens tem profundas raízes na história e mitologia oriental e até na história do hip hop. Conheça a filmografia, a lenda e a figura história por trás de Pai Mei.
Pai Mei ficou conhecido e se tornou popular no ocidente por sua participação no épico cinematográfico dividido em duas partes, Kill Bill, do diretor norte americano Quentin Tarantino. Porém o personagem possui uma longa história no cinema e na literatura chinesa. Pai Mei sempre é representado como o vilanesco e arrogante ancião, mestre imbatível de kung fu do estilo Bak Mei, eunuco, que provoca e busca ofender seus oponentes como forma de desestabilizá-los.
Pai Mei tem suas origens ligadas à figura histórica do monge Shaolin, Bak Mei (1644–1912), e a lenda do massacre do templo Shaolin. Bak Mei traduzido do cantonês significa sobrancelhas brancas, o que explica a aparência de Pai Mei, com suas longas alvas sobrancelhas. Segundo a história, Bak Mei teria sido um dos cinco anciãos, últimos monges sobreviventes do massacre de um monastério Shaolin, Guanghui, orquestrado pela dinastia Qing. Havia uma certa oposição ao reinado dos Qing por parte dos Shaolin, por isso a dinastia decidiu extermina-los. Bak Mei, segundo a lenda, traiu seus quatro aliados, se tornando um poderoso general da dinastia Qing, e líder do clã da Lótus Branca, uma organização de assassinos e mercenários. Criou o estilo de kung fu que leva o seu nome. Bak Mei também teve suas aparições no cinema, sendo a primeira no filme Os Cinco Mestres de Shaolin, de 1974.
Incrivelmente, historiadores afirmam que a vida do verdadeiro Bak Mei é repleta de fatos realmente semelhantes aos descritos nas lendas e na ficção. Porém Bak Mei na verdade tratava-se de um espião dos opositores da dinastia Qing. As histórias do monge traidor foram criadas e divulgadas por seus próprios colegas de resistência, para ajudar no disfarce de Bak Mei. Porém logo o monge sentiu que seus esforços eram inúteis e abandonou a causa, o que ajudou a estabelecer o seu personagem como o traidor que originaria Pai Mei.
Semelhante a Bak Mei, o personagem de Pai Mei surge na literatura chinesa em obras como o romance Wan Nian Qing, também como um monge Shaolin traidor e líder do Clã de assassinos da Lótus Branca. Aliado da dinastia Ching (ao invés da Qing). Mas sua traição teria acontecido bem antes, resultando no massacre do templo Shaolin. Pai Mei teria sido rejeitado como sucessor pelo líder do templo, Hong Mei (Sobrancelhas Vermelhas). Com isso, jurou vingança a todos os Shaolin, a quem dedicou sua vida a exterminar.
A primeira aparição cinematográfica de Pai Mei, interpretado por Hui Lou Chen, foi como o antagonista no filme Vingadores de Shaolin de 1976. O filme conta a história do massacre no templo e a subsequente vingança pelo monge Fang Shih-yu, interpretado por Sheng Fu.
Mas o filme que realmente transformou Pai Mei, interpretado por Lo Lieh, em um importante personagem do cinema chinês foi Carrascos de Shaolin, de 1977, que também reconta a história do massacre do templo. Nele, Gordon Liu interpreta Hong Wei Ting o jovem monge em busca de vingança. Esse filme é o primeiro de uma triologia que termina em Clan of the White Lotus, de 1980.
No segundo filme da triologia produzida pela Shaw Brothers Studio, Abbot of Shaolin, também chamado de Shaolin Abbot/A Slice Of Death, nome original Shao Lin ying xiong bang) de 1979, o exército Ching, sob o comando do traidor Pai Mei, conduz o extermínio de outro monastério Shaolin. Com ajuda de um jovem estudante, o chefe do monastério consegue escapar, mas morre logo em seguida. Porém antes, passa instruções à seu estudante que podem levar à restauração dos Shaolin e a derrota do império Ching. Nesse filme, Pai Mei volta a ser interpretado pelo ator Lo Lieh e David Chiang interpreta o protagonista Chih Shim.
Durante muitos anos, o rapper RZA, um dos fundadores do coletivo Wu Tang Clan, usou a alcunha de The Abbot, o que era uma referência à Abbot of Shaolin. O nome do coletivo, assim como de todos os seus integrantes foram extraídos de produções da Shaw Brothers Studio. Wu Tang Clan vem do filme Shaolin and Wu Tang, de 1983.
Shaolin Rescuers, de 1979, tem breves aparições de Pai Mei como um vilão coadjuvante. O filme dirigido por Chang Cheh conta a história do herói Shaolin, Hung Si-Kuan, interpretado por Jason Pai Piao.
Na continuação de Carrascos de Shaolin e Abbot of Shaolin, o filme Clan of the White Lotus, de 1980, dirigido por Lo Lieh, Pai Mei misteriosamente ressuscita para voltar a comandar o clã da Lótus Branca, porém logo é revelado que o falso Pai Mei é na verdade seu gêmeo e colega de estudos. Mas o novo Pai Mei é tão cruel, cínico, arrogante e invencível quanto o anterior. Pai Mei é finalmente vencido, quando seu rival aprende uma forma mais feminina de kung fu. Neste filme, Gordon Liu volta a interpretar Hong Wei Ting.
No filme de 1987, Wu Tang vs. Ninja, também conhecido como Ninja Killer, Pai Mei também faz apenas uma breve, mas marcante, aparição como vilão coadjuvante. Detalhe que o filme recicla a clássica trilha de Psicose, de Alfred Hitchcock, como tema de Pai Mei.
Em 2004, Quentin Tarantino ressuscitou o personagem como o misterioso mestre de Bill, Elle Driver e Beatrix Kiddo, apresentado em Kill Bill Volume 2. Até hoje uma das raras ocasiões onde não aparece como antagonista. Em um ambiente povoado por assassinos extremamente bem treinados e letais, Pai Mei assume a figura de mestre na saga da heroína Beatrix Kiddo, a Noiva. Em Kill Bill, Pai Mei foi vivido pelo ator chinês que interpretou seu oponente em tantos filmes, Gordon Liu.
Uma inusitada aparição de Pai Mei, única dessa lista em animação, se deu na série televisiva de Kung Fu Panda. Pai Mei aparece como um sagui-imperador, animal que realmente lembra o personagem, no episódio, Cinco é Demais exibido em 2013.
Com quase 400 anos, resta esperar qual será a próxima aparição do imortal, desprezível e invencível mestre do kung fu. Quer mais arte, cultura e entretenimento? Continue NA-NUZEANDO.