Quadrinhos em Curitiba é uma pesquisa de Fulvio Pacheco
Através da Gibiteca, Fulvio Pacheco lançou em abril sua revista em quadrinhos Fantasias Urbanas, na livraria Dário Veloso, da Fundação Cultural de Curitiba. Mas, muitos meses antes, a revista já circulava por Curitiba vendida na Itiban Comics Shop ou na Candyland, que, como a Gibiteca, sempre incentivaram a produção de quadrinho local.
Até exposições com os originais já haviam feito parte das exposições da Gibiteca e de espaços comerciais como da galeria Espaço de Arte, em 2003.
Mas ainda muito antes disso, a personagem principal já era conhecida do público local, através da pequena revista em quadrinhos Kika, que foi inicialmente publicada em 2000, para a promoção de um evento numa casa noturna. No gibi as personagens eram versões de super-heroínas das idealizadoras desta festa, que encenariam ação, caracterizada como dessas personagens, no palco da boate, e com direito a malabarismo e pirofagia.
Após o evento, a personagem principal e algumas secundárias foram reestruturadas, adotando diversas referências de prostitutas, dragqueens e outras pessoas reais do submundo noturno curitibano. Segundo o editorial de José Aguiar, “A curvilínea heroína vive num mundo onde transitam aqueles tipos malditos, que há muito convencionamos ignorar as damas da noite, os pervertidos… Um universo lisérgico amoral e, às vezes, sem nexo” (2003).
A personagem central foi a única que continuou com o nome original, tirado da dragqueen que a interpretou no evento, mas deixou de ter super-poderes e adotou as formas físicas e a razão social da stripper Patybell, que se apresentava em boates da boca do lixo de Curitiba.
O universo que cercava as heroínas também foi reestruturado. As cores que normalmente cercam os super-heróis, inicialmente feitas por computador, foram substituídas pelo monocromático. E os quadrinhos adotaram um estilo noir, sem acontecimentos incrivelmente irreais, e com mais consistência nos roteiros. Como apresenta Antônio Eder (2003), “Imagine um mundo sombrio, delimitado por trevas e fachos de luz. Nesta gestalt de preto e branco, existe uma legião de mulheres sedutoras e perigosas. Kika é uma delas. Ela usa e abusa de sua sedução para tirar vantagens…uma anti-heroína de primeira.”
As aventuras da Kika e da sua companheira Frida, que ocultamente é a antagonista das histórias, continuaram a ser desenhadas, agora com o nome Fantasias Urbanas, e publicadas virtualmente pela editora Nona Arte, num dos sites de quadrinhos mais visitados da Internet brasileira.
Nestes quadrinhos, técnicas diferentes foram aplicadas em cada aventura, algumas pouco tradicionais, como cita Antônio Eder, no editorial da publicação de 2003: “O Fulvio se utiliza de moldes vazados e spray, para criar o que poderíamos chamar de quadrinhos de grafitagem…, e outras mais simples, como o nanquim”. Diferentes roteiristas e desenhistas também estiveram envolvidos na sua produção e, como cita José Aguiar (2003), “até mesmo o heróico Gralha ela já assediou”.
O estilo gráfico também é bem variado. Em suas aventuras, Kika é desenhada no estilo mangá – cheia de ação, no estilo europeu – um pouco mais adulta, mas principalmente no estilo mais comum – o americano. Independente do estilo, o que prevalece é a sensualidade.
Em 2003, a coletânea destes quadrinhos, Fantasias Urbanas, de Fulvio Pacheco, autor da personagem Kika, foi publicada em formato de livro pela Fabrica do Livro do Rio de Janeiro, de forma independente, com poucos patrocinadores e sem vinculação alguma. Como já foi citado, apenas em 2004 obteve seu lançamento oficial.
Ainda em 2004 dentro do imaginário envolvendo a estética das Pin Ups, Fulvio Pacheco, em parceria com a Pin Up de carne e osso Carol Wojtyla, retomaram o evento Lust 4 Life, que segundo Wojtyla: “…foi criada com o quadrinista e ilustrador Fulvio Pacheco, em 97, com o nome de Mangá Party. A Lust 4 Life Party surgiu da ideia de resgatar o espírito burlesco dos antigos cabarés, misturando com isso vídeos, música pesada e muitos shows de rock!” (2006). O evento sempre andou lado a lado com os quadrinhos, graças às exposições de Pin Ups de Fulvio e de outros artistas, como Lucas Fernandes e Monik, e do material gráfico usado para divulgação, como cartazes, panfletos e adesivos (anexos). Eram retratadas Carol Wojtyla e as garotas responsáveis pelas libidinosas performances que aconteciam nas festas. Mas, o maior vínculo com quadrinhos aconteceu na décima edição da festa, quando os frequentadores foram presenteados com o Lust4 Life Zine, que revelava, inspirado em fatos reais, os bastidores deste evento que surgiu em 1997.
Veja mais sobre Quadrinhos em Curitiba, a pesquisa de Fulvio Pacheco