Conheça a história de Han Van Meegeren, artista plástico do começo do século que jurou vingança aos críticos, quase foi condenado à morte durante a Segunda Guerra Mundial e ficou conhecido pela história da arte como o maior falsificador de todos os tempos.
Han Van Meegeren nasceu em 1889 na Holanda e logo criança demonstrou interesse pelas artes plásticas. Seu sonho de se tornar um grande pintor não era apoiado por seu pai, que insistia na carreira de arquiteto. Mas Meegeren conheceu o pintor e professor Bartus Kortelling, que viria a se tornar seu mentor.
Kortelling era um grande apreciador da chamada Era de Ouro da pintura holandesa e de artistas como Johannes Vermeer. Kortelling mostrou à seu aluno como Vermeer misturava cores, e isso influenciou bastante Han Van Meegeren.
Mesmo assim, o pai de Han Van Meegeren pressionou o artista à estudar arquitetura na cidade de Delf, sem saber que estava mandando seu filho para a cidade natal de Vermeer. Meegeren aprofundou seus estudos no artista e nem chegou a concluir o curso de arquitetura. Passou a estudar na Academia de Artes da cidade Haia em 1913. No mesmo ano, ganhou uma medalha de ouro de sua escola em Delf por sua obra Estudo do Interior da Igreja de Saint Lawrence.
Van Meegeren alcançou rapidamente reconhecimento no meio artístico. Porem com o passar do tempo a atenção dos críticos, mais interessados na arte de vanguarda, cubismo e surrealismo, passou a diminuir. Eles afirmavam que a obra de Van Meegeren não possuía nada de novo a oferecer, uma vez que o artistas estava muito focado no passado. Meegeren sofreu acusações de falta de originalidade e plágio.
Em 1945 Van Meegeren declarou: “Levado ao estado de ansiedade e depressão por conta da constante desvalorização do meu trabalho, eu decidi, em um dia fatídico, me vingar dos críticos de arte e especialistas realizando algo que o mundo nunca viu antes”
Meegeren decidiu que iria mostrar ao mundo que era tão bom quanto artistas históricos criando obras que se passariam por originais de pintores clássicos, lucrando muito no processo.
Como era de se esperar, sua principal vitima foi Vermeer. Fora seu profundo conhecimento da técnica e história do artista, Johannes Vermeer se mostrava um alvo fácil, pois só possuía 35 pinturas conhecidas, o que acreditava-se ser aproximadamente um décimo de sua obra completa. Isso significava que historiadores e colecionadores estavam em constante busca por pinturas desconhecidas do artista.
Para criar suas falsificações Van Meegeren aprofundou ainda mais seus estudos na obra de Vermeer. Chegou a comprar molduras autenticas do séc XVII e usou fórmulas da época para criar suas tintas. Seu maior problema era fazer com que as obras parecessem ter 300 anos de idade. Pinturas à óleo demoram décadas para secar completamente. Um especialista poderia identificar facilmente uma pintura nova. Meegeren queimou e derreteu muitas pinturas até desenvolver um verniz que endurecesse a tinta. Uma vez seca, Van Meegeren rolava um cilindro sobre as pinturas para criar mais rachaduras na tinta e no verniz.
Outro obstáculo seria a temática das pinturas. Inicialmente ele tentou pintar temas parecidos com os de Vermeer, porém logo percebeu que especialistas notavam as pequenas diferenças. Meegeren então tentou criar obras diferentes da temática recorrente de Vermeer, porém com características sutis da técnica do artista.
O primeiro quadro que Meegeren vendeu como uma obra original de Vermeer foi Christ at Emmaus. A pintura era muito maior do que a maioria das obras conhecidas de Vermeer, além de apresentar um tema religioso, pouco explorado pelo artista. A única obra sacra conhecida de Vermeer é a pintura Cristo na casa de Marta e Maria, porém boatos circulavam pela academia de que a obra faria parte de um período da trajetória de Vermeer, onde o artista haveria explorado temas religiosos, o que aumentou a credibilidade da falsificação.
O historiador Abraham Bredius, famoso por identificar falsificações e obras autênticas de Vermeer chegou a afirmar que “É incrível o momento na vida de um amante da arte em que ele se encontra subitamente confrontado com uma obra desconhecida de um grande mestre, intocada, na moldura original, e sem nenhuma restauração, exatamente como deixou o atelier do artista. E que obra! Estou inclinado a dizer que é a obra prima de Johannes Vermeer.” Meegeren vendeu o equivalente à quase dois bilhões de reais em obras falsificadas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Hermann Goerring, segundo homem na escala de poder da Alemanha nazista, trocou 137 pinturas raras e históricas pela falsificação Cristo e a Mulher Adúltera, creditado a Vermeer.
Ao final da guerra, Goerring foi capturado e soldados aliados encontraram a mina de sal onde havia escondido sua coleção de arte, em sua maioria roubada pelos nazistas de museus e residências por toda Europa.
Para a infelicidade de Van Meegeren, Goerring mantinha rigidamente documentadas todas as transações referentes à suas aquisições. Em 1945, Meegeren foi preso e acusado de “colaborar com o inimigo”, sob pena de morte.
Han Van Meegeren foi obrigado a confessar sua carreira de falsificador. Ele afirmou ser responsável pela pintura adquirida por Hermann Goerring, outras cinco creditadas à Vermeer, e duas se passando por obras originais de Pieter de Hooghs, todas “descobertas” depois de 1937. Foi então intimado pela corte à pintar na frente de todos uma falsificação de Vermeer. Passando no teste, Meegeren acabou sendo acusado apenas do crime de falsificação, sendo condenado a um ano de prisão.
Han Van Meegeren argumentou ainda em seu julgamento que teria feito um bem ao país por garantir que 137 obras adquiridas ilegalmente por Goerring permanecessem em território holandês, em troca de uma falsificação. “Como poderia uma pessoa demonstrar mais o seu patriotismo e seu amor pela Holanda do que eu o fiz ao trapacear o maior inimigo do povo holandês?”
Van Meegeren não chegou a cumprir sua pena. Morreu de ataque cardíaco dois meses depois do fim de seu julgamento de dois anos. O nome Han Van Meegeren ficou extremamente conhecido no meio das artes plásticas, não como o gênio que ele acreditava ser, mas como o maior falsificador da história da arte, e como “o homem que enganou Goering“.
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