Preacher, a obra prima em quadrinhos de Garth Ennis e Steve Dillon

A série de TV produzida pela emissora AMC mostra que Preacher, HQ de Garth Ennis e Steve Dillon continua relevante mesmo vinte anos após seu lançamento.

A série Preacher estreou na TV a cabo estadunidense em maio de 2016 e voltou a colocar Jesse Custer, Tulipa O’Hare e Cassidy em evidência. Trata-se de uma adaptação da série de quadrinhos dos 90, publicado pelo selo Vertigo, da DC Comics, escrita pelo irlandês Garth Ennis, desenhada pelo britânico Steve Dillon, com capas icônicas do também britânico Glenn Fabry.

A série televisiva, apesar da inquestionável qualidade, não é uma adaptação fiel dos quadrinhos. O que em si não é um problema. A série porém apressou-se em apresentar personagens e tramas das HQs em suas duas primeiras temporadas, abandonou por completou subtramas, criou novas tramas e no geral simplesmente falhou em capturar o espirito e a genialidade narrativa dos quadrinhos.

Studio na Colab55

Cara-de-Cu, Jesse Custer, Tulipa O’Hare e Cassidy, por Steve Dillon
Grande Pai d’Aronique, do Graal, por Glenn Fabry

Preacher, em muitos aspectos conseguiu sintetizar muito do que era a cultura norte-americana nos anos 90 de uma forma única, ácida, satírica, mas reverencial, embalada pela linguagem cinematográfica, experimentação na estrutura narrativa e humor negro tarantinescos, remanescentes de Pulp Fiction e Cães de Aluguel com elementos de terror sobrenatural e fortes críticas à várias formas de religião organizada. O interesse redescoberto na época pelos vampiros, visto em obras cinematográficas da época como as adaptações de Drácula de Bram Stoker, Entrevista com o Vampiro, em séries como Buffy e Arquivo X, em jogos como Vampiro: A Máscara e mesmo na tele-novela brasileira Vamp, ganha uma forma completamente diferente em Preacher através de Cassidy. O vampiro beberrão irlandês, sem presas, medo de crucifixos ou alho, que até consegue sair de dia, contanto que não seja com a luz do sol não seja direto pouco possui do romantismo de Lestat ou da pompa de Drácula. A heroína sobrevivente de ação, remanescente de personagens como Ripley, da série Alien, e Sara Connor, da série Exterminador do Futuro, ou mesmo Samus, da série de games Metroid, e a representação feminina de movimentos como o Riot Grrrl, musicistas como Madonna, L7Fiona AppleAlanis Morissette, ou mesmo a série Sex and the City, são somados e ganham corpo em Tulipa. A geração desiludida e sensível, que ganhou voz no grunge de bandas como Nirvana, Soundgarden e Pearl Jam, em conflito com o conservadorismo, crendice, agressividade e intolerância das gerações mais velhas ganha é representada pelo Cara-de-Cu, e seu pai. A forte crítica à igreja católica e às formas conservadoras norte-americanas de cristianismo, fortes no gótico, punk, metal e industrial dos anos 90, de bandas como Bad Religion, Fear Factory e Marilyn Manson, pode ser vista por todo lado, mas especificamente no Graal, uma organização para-militar com moldes fascistas que, não por acaso, utilizam iconografia e visual semelhantes ao Vaticano. Mesmo o amor intenso, trágico e fora da lei, de casais como Mickey e Mallory Knox (do filme Assassinos por Natureza), Sailor e Lula (Coração Selvagem) e mesmo Thelma e Louise pode ser visto no casal Jesse e Tulipa. Os conflitos e colapsos de valores, tradições e da fé estadunidense da época é a fundação para a busca literal do reverendo Jesse Custer pelo Todo-Poderoso. “Vou procurá-lo. Não importa o quanto eu demore, ou por onde eu tenha que ir. Vou achá-lo. E vou obrigá-lo à dizer a seu povo que desistiu”.

Tulipa, por Steve Dillon
Cassidy, por Glenn Fabry
reverendo Jesse Custer, por Steve Dillon
Jesse e Tulipa, por Glenn Fabry

Por aqui no NA-NU a gente contou um pouco da história do selo Vertigo de quadrinhos no post que fizemos sobre a série Sandman, de Neil Gaiman. Mas basicamente, no final dos anos 80, inspirados pelo sucesso comercial de obras como Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller e A Piada Mortal, de Allan Morre, a editora norte americana de quadrinhos, DC Comics, buscava por novos roteiristas talentosos. Em sua maioria jovens britânicos. Aproveitando a recém publicada Crise nas Infinitas Terras, série que redefiniu o universo ficcional da DC, a editora buscava autores aptos à reinventar o universo de suas publicações. Com isso (re-)nasciam séries excelentes como Homem-Animal, de Grant MorrisonO Monstro do Pântano de Allan Moore e Sandman de Neil Gaiman. Obras que estão entre as mais influentes da história recente dos quadrinhos. As publicações foram sucesso de público e crítica e levaram a DC a criar a linha Vertigo de quadrinhos adultos.

Jesse e Tulipa, por Steve Dillon

O personagem John Constantine, criado para as histórias do Monstro do Pântano, ganhou sua própria excelente série de HQs, Hellblazer (Tradução, Observador do inferno) em 1993 pela qual grandes nomes dos quadrinhos passaram como Allan Moore,  Jamie DelanoPaul JenkinsWarren EllisGrant MorrisonNeil GaimanBrian AzzarelloMike CareyAndy Diggle e Peter Milligan. Uma das melhores e mais icônicas fases da publicação foi o período escrito por Garth Enis e ilustrado por Steve Dillon, com capas de Glenn Fabry. A popularidade das histórias de Hellblazer produzidas pelo trio fez com que ganhassem carta branca da DC para criar sua própria série. A edição inaugural de Preacher, primeira parte do arco Viagem ao Texas foi publicada em 1995. No Brasil a editora Abril lançou inicialmente a mini-série Santo dos Assassinos, em 1997 e em 1998 a editora Metal Pesado/Tudo em Quadrinhos começou a publicar as edições regulares de Preacher. No total foram 8 arcos de história e 6 histórias especiais que formal uma aventura incrivelmente rica, divertida, provocadora e bem resolvida. De 2010 à 2014 a editora Panini Books publicou todas as histórias em 9 volumes.

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Preacher – 08 (Guerra no Sol 1)

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