O Monstro da Lagoa Negra, de 1954, voltou a ser pauta por ser uma das principais inspirações do filme A Forma da Água, de Guilhermo del Toro. Milicent Patrick foi uma das principais artistas por trás do visual da criatura, porém foi demitida e teve seus créditos ocultados por Bud Westmore que se opunha a ter uma mulher creditada como criadora do monstro.
Milicent Patrick tem uma impressionante carreira e participação na história do cinema. Como atriz atuou em mais de 20 filmes e em dezenas de séries de TV. Como animadora, foi a primeira mulher a trabalhar para os estúdios Disney. Porém talvez seu trabalho mais significante seja a criação de conceito, efeitos especiais, maquiagem e figurino para criaturas consagradas do cinema de horror e ficção científica.
A artista foi responsável pela maquiagem dos piratas em No Reino dos Corsários (Against All Flags – 1952), a criação de monstros como o alienígena de A ameaça veio do Espaço (It Came from Outer Space – 1953), o mutante Metaluna em A Ilha da Terra (This Island Earth -1954), a maquiagem de Jack Palance em Átila, Rei dos Hunos (Sign of the Pagan – 1954) e criou máscaras para Abbott e Costello Enfrentando o Médico e o Monstro (Abbott and Costello Meet Dr. Jekyll and Mr. Hyde – 1953) e O Templo do Pavor (The Mole People – 1956).
Porém seu trabalho mais influente talvez tenha sido a criação da criatura do filme O Monstro da Lagoa Negra (Creature from the Black Lagoon – 1954). O ser anfíbio, encontrado nas selvas da floresta amazônica, estrelaria três filmes, teria aparições em filmes de Abbott e Costello, no clássico dos anos 80, Deu a Louca nos Monstros (The Monster Squad – 1987) e serviria como inspiração para personagens como Abe Sapien, da série de HQs/Filmes, Hellboy. Mais recentemente o filme A forma da Água teve o homem-guelras como principal ponto de partida. Em entrevista, o diretor Guilhermo del Toro afirmou “Quando eu tinha seis anos de idade, assisti O Monstro da Lagoa Negra e pensei: ‘Que bela história de amor’. Eu tinha certeza que acabaria bem”.
Em dezembro de 1952, muito antes do início da produção de O Monstro da Lagoa Negra, o diretor Jack Arnold e o produtor William Alland começaram a desenvolver o visual da criatura título do filme. Sobre os rascunhos de Arnold, Milicent criou ilustrações do rosto e das mãos da criatura. Milicent acompanhou também de perto a criação da máscara, luvas e roupa do monstro, adicionando texturas e retoques ao lado de artistas dos efeitos especiais como Jack Kevan, Chris Mueller e seu chefe no departamento de efeitos especiais da Universal e responsável pela criações do visual de monstros clássicos como Drácula (Dracula – 1931) e o monstro de Frankenstein (Frankenstein – 1931), Bud Westmore.
Milicent chegou a participar de uma turnê de divulgação do filme, promovida pela universal, se apresentando como A Bela que criou a Fera. Porém em seu retorno, foi demitida e teve seus créditos apagados do filme por Bud Westmore. Apesar da artista sempre citar Westmore e a equipe de efeitos especiais da Universal como co-criadores do monstro em suas aparições publicas, Bud Westmore acusou a artista de tomar os créditos para si. O livro The Creature Chronicles: Exploring the Black Lagoon Trilogy, de Tom Weaver, Steve Kronenberg e David Schecter, afirma que Bud Westmore era abertamente contra ter uma mulher creditada como criadora do monstro. Vendo o fato como “publicidade negativa” e uma ameaça a credibilidade da criatura. Westmore mais tarde daria entrevistas assumindo completamente o crédito pela criação do monstro.
Apesar disso, Milicent seguiria dando o crédito de criação à Westmore e à equipe da Universal em entrevistas e aparições publicas por toda sua vida. Sempre se demonstrando grata pelas oportunidades recebidas e se desculpando publicamente por “pisar nos pés” de Bud Westmore.
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