Camille Claudel, conheça a história da artista, considerada gênio da escultura, que terminou seus dias trancafiada em um manicômio
Camille Claudel (1864-1943) foi uma escultora e artista francesa. É considerada pelos críticos e
estudiosos de arte como um gênio da escultura. A vida e de Camille porém é uma história repleta de dores e injustiças. Teve seus méritos roubados, foi internada em manicômio e faleceu na obscuridade, mas sua obra ganhou reconhecimento décadas após sua morte.
Camille Claudel, nome artístico de Camille Athanaïse Cécile Cerveaux Prosper, filha de uma família de fazendeiros e fidalgos e irmã mais velha do poeta e diplomata Paul Claudel. Fascinada por pedra e terra desde criança, Camille inicia sua jornada artística ao ingressar na Académie Colarossi, um dos poucos lugares abertos a estudantes mulheres. Em 1882, Camille alugou um ateliê com outras mulheres para trabalhar em suas esculturas com Alfred Boucher como mentor. Artista que foi uma grande inspiração para toda uma geração de escultores. Depois de ter lecionado para Camille e as colegas por mais de três anos, Alfred perguntou a Auguste Rodin se ele não gostaria de assumir a instrução de suas alunas.
Por volta de 1884, Camille começa seus estudos na oficina de Rodin. Ela se torna sua inspiração, sua modelo, confidente e amante. Camille nunca morou junto de Rodin, que relutava em terminar seu relacionamento com sua esposa Rose Beuret.
“Auguste Rodin é reconhecido hoje como um dos mais célebres escultores da história da humanidade, mas parte da sua genialidade pode ser atribuída ao convívio com Camille Claudel, sua aluna e amante por 15 anos. A relação intensa, mas tumultuada entre ambos aflorou o lado mais criativo de Rodin“, afirma Romaric Büel, que foi curador da exposição Camille Claudel, a sombra de Rodin. Se o período em que ela permaneceu no estúdio de Rodin como sua assistente foi considerado o mais produtivo da vida do escultor, para Camille foi a pior fase de afirmação artística. Sua vida e seu trabalho ficaram ligados ao gênio Rodin, o que se transformou numa trágica história de criação, amor e loucura.
O trabalho de Camille tinha assinaturas distintas como a plasticidade das obras, a representação de gênero e escalas diversas. Transcendia os padrões convencionais para esculturas em sua época e até nas décadas seguintes. Devido ao machismo e preconceito pelo fato de ser mulher, Camille não conseguia financiar muitas de suas ideias e por vezes dependeu de Rodin para realizar algumas delas em colaboração ou deixando-o levar o crédito pela obra.
Ela era dependente financeiramente da família. Seu pai, Louis Prosper, aprovava seu estilo de vida e sua escolha profissional e a manteve financeiramente até sua morte. Depois da morte de seu pai, sua mãe, Louise Athanaïse Cécile Cerveaux, e seu irmão tomaram o controle das finanças. O conhecimento de seu caso com Rodin desagradou a família, em especial sua mãe, que sempre a rejeitou por não ter nascido menino (e tendo nascido após a morte de primeiro bebê) e nunca concordou com seu envolvimento com as artes. Como resultado, Camille deixou a residência da família e após sofrer um aborto em 1892, terminou o relacionamento íntimo que tinha com
Rodin, apesar de continuar a vê-lo com frequência até 1898.
Após o rompimento com Rodin, ela começou a produzir seus trabalhos mais pessoais e revolucionários. A partir de 1903, Camille expôs suas obras no Salon des Artistes Français e no Salon d’Automne. Ela se mostrou uma escultora brilhante sem ser a sombra de Rodin.
Nos primeiros anos do século XX, Claudel tinha patronos, distribuidores e sucesso comercial. No entanto, este apoio começou a diminuir. Esculpir era uma arte cara e Camille recebia poucas encomendas devido ao seu estilo pouco comum para o gosto da época, o que a endividou. A família a abandonou por completo deixando-a na miséria, usando roupas esfarrapadas e vivendo de favores.
Após 1905, Camille pareceu desenvolver algum transtorno mental. Ela destruiu muitas de suas obras, desaparecia por longos períodos de tempo e exibia sinais de paranoia, tendo sido diagnosticada com esquizofrenia.
Seu irmão Paul Claudel internou-a abusivamente no hospital psiquiátrico de Ville-Évrard, em Neuilly-sur-Marne. No formulário diz que o internamento foi “voluntário”, mas foi assinado apenas pelo irmão de Camille e pelo médico responsável. Há registros que mostram que, embora ela tenha tido surtos, ela estava completamente lúcida enquanto trabalhava na sua arte. Os médicos tentaram convencer a família que ela não precisava estar internada, mas mesmo assim eles a mantiveram lá.
Em 1914, os pacientes foram transferidos para Enghien, para se protegerem do avanço de
tropas alemãs. Em 7 de setembro de 1914, Camille foi transferida, junto de várias mulheres, para o Asilo de Montdevergues, em Montfavet, seis quilômetros de Avignon. O certificado de admissão
foi assinado em 22 de setembro de 1914, reportando que ela sofria de “delírios sistemáticos e persistentes de perseguição baseado em falsas interpretações e imaginação”. Sua mãe proibiu Camille de receber cartas de qualquer pessoa, a não ser seu irmão. O hospital propôs novamente que Camille não tinha porque ser mantida encarcerada, mas a família se recusava a lhe dar a dispensa. Em 1º de junho de 1920, o médico Dr. Brunet mandou uma carta à mãe de Camille para que tentasse reintegrar a filha ao convívio familiar, mas nunca recebeu resposta. Seu irmão Paul Claudel a visitou apenas setes vezes em 30 anos, sua irmã Louise a visitou apenas uma vez, em 1929. Sua mãe, porém, nunca a visitou. Em 1929, sua amiga Jessie Lipscomb a visitou e insistiu que Camille não era insana, nem louca, nem precisava de internação. O amigo de Rodin, Mathias Morhardt, insistia em dizer que Paul queria calar o talento da irmã. Ele declarou: “Paul Claudel é um simplório. Quando alguém tem uma irmã que é um gênio, você não a abandona. Mas ele sempre pensou que era ele o gênio da família”
Camille Claudel morre em 1943, com a idade de 78 anos, após viver 30 anos no hospício de Montfavet (hoje conhecido como Asilo de Montdevergues, um moderno centro hospitalar e psiquiátrico). O corpo de Camille foi enterrado no cemitério da instituição em uma vala comum.
Camille Claudel serviu de inspiração para o personagem Kamille Bidan protagonista do anime de ficção-científica Mobile Suite ZGundam. Várias biografias suas foram escritas ao longo dos anos. O filme Camille Claudel (França, 1988 – California Filmes) relata a vida da escultora. Conta com a direção de Bruno Nuytten e Isabelle Adjani como Camille e Gérard Depardieu como Rodin. Em Camille Claudel, 1915 (2013), dirigido por Bruno Dumont, Juliette Binoche interpreta Camille em 1915, já internada.
Em 2017, Claudel ganhou um museu inteiro dedicado a sua obra. Segundo o curador Romaric Büel, resgatar e discutir vida de Camille têm seu benefício social. “A sua vida difícil representa um verdadeiro sacrifício, o qual permitiu derrubar um muro de preconceitos que existia durante o século XIX e começo do século XX contra as mulheres artistas”.
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