Quadrinhos em Curitiba é uma pesquisa de Fulvio Pacheco. Em 1997 surgia O Gralha, super herói curitibano inspirado na ave símbolo do Paraná. Este texto foi editado em 13/12/2017 por Lucas Fernandes, com informações concedidas por Leonardo Melo
Em 1997, em comemoração ao aniversário da Gibiteca de Curitiba, foi lançada a edição especial da revista Metal Pesado, intitulada 15 Anos de Gibiteca de Curitiba, acompanhada da exposição de originais criados por 24 quadrinistas, para a revista Metal Pesado, que contou com 1.220 visitantes. A revista venceu o prêmio HQ Mix pela edição. Mesmo tratando-se de uma publicação mista, destacam-se as aventuras do super-herói Gralha, uma espécie de releitura moderna do lendário Capitão Gralha, de 1940. Este último personagem, para alguns, não passou de um golpe publicitário pra divulgação do Gralha. Já o herói de 1997 foi elaborado por vários desenhistas locais: Alessandro Dutra (que criou os trajes do personagem), Gian Danton e José Aguiar (que criaram a história), Antonio Eder, Luciano Lagares, Tako X, Edson Kohatsu e Augusto Freitas. Dutra e Aguiar (que se incumbiram da arte) e Nilson Muller (que já havia vendido suas pinturas como capa para Metal Pesado e que fez a capa também desta edição).
Um ano depois, o Gralha voltou a ser publicado na página semanal do suplemento do caderno Fun, da Gazeta do Povo, de 1998 à 2000, em forma de tiras. O personagem vivia suas aventuras nestas tiras, em diferentes estilos de desenho e argumento, conforme cada autor. Ia desde a intenção realista até o traço caricato. No jornal, os desenhistas desenvolveram o universo do Gralha e novos elementos foram adicionados a sua mitologia. Ele seria o neto do Capitão Gralha de 1940, uma espécie de tradução folclórica dos heróis dos EUA.
Algo próximo já era apresentado na exposição que deu origem ao Dr. Clima, em 1994, mas nunca antes viram-se publicados tantos elementos da cultura curitibana dentro de uma revista em quadrinhos, o que levava os leitores a se identificarem, graças a elementos que lembravam o seu cotidiano. As tiras apresentavam uma Curitiba de um futuro indefinido, que cresceu e se prolongou até o Oceano Atlântico, tornando-se o “paraíso” de qualquer super-herói, pois em seus cenários encontram-se todos os clichês do gênero. Os vilões capturados passam o resto dos seus dias na Ilha do Ahú, uma espécie de Alcatraz. São vilões com nomes bem sugestivos como: Craniano, cuja cabeça gigantesca é tatuada como uma Pêssanka, Araucária, que aumentava seu tamanho, Café Expresso, Homem Lambrequim, Dr. Botânico, Polaquinha, Aranha Marrom. Segundo Tako X: “Eu procuro buscar uma identidade local, ao mesmo tempo em que faço algo universal” (1998). O Gralha, apesar de apresentar Curitiba, tem grande influência do modelo norte-americano, e, em alguns casos, em histórias mais introspectivas do modelo europeu.
Em 2001, a editora Via Lettera lançou o livro O Gralha, compilando todas as histórias lançadas pela Gazeta do Povo, semanalmente e produzidas por desenhistas diferentes. Por isso, o roteiro de uma página para outra não seguia um estilo padrão, pois ia do humor à tragédia, e seu desenho podia ser cartunizado, realista e até mesmo abstrato, conforme o estilo de cada desenhista que contribuiu em suas histórias. Estes desenhistas colaboradores não se resumiram aos seus sete criadores, mas a maior parte dos quadrinistas locais. Nesta publicação de 2001 podia-se ver a arte dos criadores no personagem, e também de Jairo Rodrigues, Eduardo Moreira, Rogério Coelho e Augusto Freitas.
Em quadrinhos posteriores a esta compilação, o personagem Gralha foi desenhado por artistas e roteiristas, como Fulvio Pacheco, Adilson Orikassa, DW e muitos outros, na participação do personagem na revista Fantasias Urbanas, um crossover com a personagem Kika, de 2004, em material ainda não publicado. Quase todos os quadrinistas curitibanos já desenharam o Gralha de uma forma ou de outra.
Segundo Cláudio Rubin, as histórias em quadrinhos do Gralha foram “uma espécie de catálogo das possibilidades expressivas deste grupo de quadrinistas e do potencial estético do gênero” (2001). E para Dante Mendonça, “a produção é um mélange cultural, que varia até por causa da formação étnica da cidade” (1998).
Em dezembro de 2002, a Gibiteca comemorou o aniversário de 5 anos do personagem local Gralha, com uma exposição coletiva sobre o mesmo, no Museu da Fotografia, do Centro Cultural Solar do Barão. Houve uma apresentação da adaptação cinematográfica intitulada O Gralha: O Ovo ou a Galinha, dirigida por Tako X, com o desenhista Edu Moreira no papel do Gralha, lançada em outubro de 2002. O filme pode ser visto em festivais de curtas-metragens em todo o país, inclusive no Festival de Curitiba, onde recebeu o prêmio de melhor curta, na escolha do público. O personagem, mesmo no filme, continuou apresentando ao público a paisagem local, com seus cenários característicos e a cultura tradicional de Curitiba. Na fita também puderam ser ouvidos diversos grupos de rock da capital paranaense. Sem dúvida, este foi o personagem mais divulgador da cultura local.
Em 2014 a editora Quadrinhópole publicou O Gralha – Tão Banal Quanto Original , editado por José Aguiar reunindo HQs clássicas do personagem. Em 2015 a Quadrinhópole publicou O Gralha – Artbook, editado por Antonio Eder e com textos de Gian Danton e Leonardo Melo. O Artbook reúne desenhos, animações, esculturas, quadrinhos e curiosidades gráficas acerca do Gralha. E em 2016, a editora lançou As Aventuras do Capitão Gralha, mostrando histórias do passado e explicando um pouco sobre a cronologia do capitão e do próprio Gralha.
Lembrando que aqui você também encontra HQs completas pra você ler em HQ no NA-NU
E tem mais conteúdo de quadrinhos por aqui
Que interessante, não? O artigo não faz nenhuma menção às publicações do personagem produzidas pela Editora Quadrinhópole, apesar de usar descaradamente imagens dessas publicações (não apenas capas, mas também internas) sem a nossa autorização. Muito bacana, parabéns.
Alteraram o texto original mas não mencionaram a alteração….
A afirmação de que “Quase todos os quadrinistas curitibanos já desenharam o Gralha de uma forma ou de outra.” está longe de ser verdade.
Quem é o autor deste material?