Uma introdução ao Grunge e a cultura alternativa dos anos 90

Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains, são alguns dos representantes do fenômeno cultural que veio a ficar conhecido como Grunge.

O Google e a Wikipedia definem o termo Grunge como “um subgênero do rock alternativo que surgiu no final da década de 1980 no estado americano de Washington, principalmente em Seattle, inspirado pelo hardcore punk, pelo heavy metal e pelo indie rock.” Essa descrição até explica, porém soa estranha e incompleta quando observamos o que sabemos sobre a onda cultural que veio a ser conhecida como Grunge.

A primeira coisa que é importante observar é que não houve um “movimento” Grunge. O termo não existia até ser inventado pela imprensa quando alguns artistas começaram a chamar atenção, e nunca nem foi abraçado como um rótulo pelos principais artistas representantes do estilo. Muitas bandas se definiam como rock alternativo ou punk rock, e não se vê o Grunge sendo levantado como bandeira.

Nirvana, formação original, Kurt Cobain, Krist Novoselic e Chad Channing.
Melvins: Mark Deutrom, Buzz Osborne e Dale Crover
Mother Love Bone: Jeff Ament, Bruce Fairweather, Andrew Wood, Greg Gilmore e Stone Gossard
Mudhoney: Mark Arm, Matt Lukin, Dan Peters e Steve Turner
Green River: Jeff Ament, Bruce Fairweather, Mark Arm, Alex Vincent e Stone Gossard
Temple of the Dog: Stone Gossard, Jeff Ament, Mike McCready, Eddie Vedder, Matt Cameron e Chris Cornell

Existe porém uma semelhança sonora, temática, ou mesmo de vivência e cultural, entre estes artistas. Além da influência do punk, indie e metal já citada, poderia se incluir o rock psicodélico dos anos 60 e até flertes com o lírico, folk, country e blues. A poética das letras, que brincam com o surreal e a alegoria, passando longe do discurso direto pelo qual o punk é conhecido, sem descartar as críticas à sociedade e ao comportamento humano. O Grunge é normalmente reconhecido pelo desabafo, pelo lamento de insatisfação e clamor por alguma esperança que o aproxima tematicamente ao gótico e à new wave. Algumas influências citadas também são frequentes em nomes como David Bowie, Neil Young, Bob Dylan, Ramones e Beatles. Ou seja, o Grunge era um grande encontro de várias ondas da contracultura, movimentos, pensamentos e sons que já ecoavam pela cultura alternativa.

E sim, muitas destas bandas vinham de Seattle e isso não é a toa. Seattle já era um palco da contracultura e uma potência da mídia alternativa a algum tempo. É sede do jornal independente Seattle Weekly, da Fantagraphics, uma das principais editoras de quadrinhos alternativos do mundo, responsável pela publicação de autores como os irmãos Mario, Gilbert e Jaime Hernandez, Peter Bagge, Daniel Cowes, Dame Darcy e Simon Hanselmann. Também do bairro de Fremont, conhecido pelo seu espírito boémio e alternativo. Mas principalmente, Seattle era a sede da Sub Pop, gravadora independente que se tornou conhecida justamente por ser o primeira a contratar Nirvana, SoundgardenMudhoney, e várias bandas que ficariam conhecidas como principais representantes do Grunge.

Nirvana: Dave Grohl, Kurt Cobain e Krist Novoselic.
Soundgarden: Ben Shepherd, Chris Cornell, Kim Thayil e Matt Cameron.
Alice in Chains: Jerry Cantrell, Layne Staley, Mike Starr e Sean Kinney

No final dos anos 90 a cultura alternativa estava em ebulição pelo mundo todo. Ponto alto da produção de fanzines e publicações alternativas, selos e gravadoras independentes. Tudo isso criou o solo fértil no qual não só o Grunge nasceu e a cultura alternativa prosperou, mas várias manifestações artísticas como o trip hop, o brit pop, o techno, entre tantas outras. No Brasil, essa efervescência foi responsável pelo surgimento do Mangue Beat, por exemplo. Podemos dizer inclusive, com muito orgulho, que esse projeto de divulgação artística com o qual você está interagindo nesse momento, o NA-NU, também faz parte dessa história, já que nascemos no final dos anos 90 como um fanzine de quadrinhos, poemas e textos, fruto dessa mesma ebulição da cultura alternativa.

Capa de Peter Bagge para a coletânea Sub Pop 300, com as bandas Green River, Mudhoney, TAD, Screaming Trees, The Shins e L7.
Capa do álbum Heavens to Murgatroyd, even! do Thee Headcoats, por Daniel Cowes
Capa de Charles Burns para a coletânea Sub Pop 200, que incluía artistas como Tad, Nirvana, Mudhoney, Soundgarden, Green River e Screaming Trees
HQ de Dame Darcy contando como ela fez uma boneca para Courtney Love com uma mecha de cabelo de Kurt Cobain
Love & Rockets, por Jaime Hernandez

Bandas como Nirvana, Soundgarden, Pearl Jam e Alice in Chains souberam muito bem representar o sentimento de angustia e inquietação de toda uma geração. E foi assim que, sem ninguém prever, no natal de 1991, muitos jovens foram às lojas trocar o disco Dangerous, do Michael Jackson, que haviam ganhado de presente, por Nevermind, do Nirvana. O primeiro álbum à entrar na lista dos mais vendidos através de devoluções.

O que ficou conhecido como Grunge é na verdade mais um exemplo de uma expressão saída lá dos porões da contracultura, a ponta de um iceberg que dispara a crescer, rompe tantas barreiras invisíveis, se torna cultura popular, e hoje, é história.

Pearl Jam: Mike McCready, Matt Cameron, Eddie Vedder, Jeff Ament e Stone Gossard
Alice in Chains: William DuVall, Jerry Cantrell, Sean Kinney e Mike Starr.

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