Horror histórico por trás de Run to the Hills, clássico do Iron Maiden

Run to the Hills, uma das mais importantes canções da gigante do heavy metal, Iron Maiden, revela um massacre real e histórico!

Run to the Hills é uma das canções mais populares da gigante inglesa do heavy metal, Iron Maiden. Foi lançada no terceiro álbum de estúdio da banda, The Number of the Beast, de 1982. É o primeiro single com Bruce Dickinson como vocalista, e um dos mais importantes marcos da carreira do grupo. Apesar da popularidade da faixa e de sua importância na história do rock e do metal, muitos fãs não sabem que a canção retrata um massacre histórico, verdadeiro e em andamento.

“O homem branco veio atravessando o mar
Ele nos trouxe dor e miséria
Matou nossas tribos, matou nossa crença,
Tomou nossa atividade para sua própria necessidade.”

Run to the Hills é  uma canção de protesto que chama a atenção para o extermínio dos milhares de índios norte-americanos, que habitavam o continente antes da chegada dos europeus. A letra da música descreve, inicialmente, a chegada do ‘homem branco’ e o impacto destrutivo de suas ações, que vão desde o assassinato de tribos inteiras até a exploração dos recursos naturais.

Antes da tomada das Américas pelos europeus, a maioria das tribos era semi-nômade. Ou seja, ocupava uma região no verão e outra no inverno. Durante o verão, a principal fonte de sobrevivência era a caça do búfalo, que fornecia carne e peles para aquecer a tribo. Com a chegada do europeu, os búfalos foram caçados quase até a extinção. A perda de um de seus principais meios de sobrevivência provocou a desagregação de diversas tribos, que tiveram que se espalhar por todo o continente.

American Progress (Progresso Americano), 1872. Gravura de John Gast (1842–1896)

A chamada ‘conquista do oeste’ foi particularmente brutal. Os soldados norte-americanos, que utilizavam uniformes azuis, não faziam distinção entre homens, mulheres e crianças, a todos exterminando sem piedade. A resistência indígena não era tolerada e o índio era visto como uma figura maliciosa e perigosa. Durante décadas, o cinema norte-americano perpetuou essa visão distorcida dos índios dando origem a um novo gênero: o faroeste ou, em inglês ‘far-west’, oeste distante. Como resultado, muito pouco sobrou como herança cultural indígena na cultura norte-americana.

Studio na Colab55

“Lutamos contra eles, lutamos bem.
Nas planícies entregamos eles ao inferno.
Mas muitos vieram, tantos que era difícil acreditar.
Será que seremos livres algum dia?”

Com uma longa tradição guerreira, muitas tribos indígenas resistiram. Entre o final do século XVIII e quase todo o século XIX, tribos como os Sioux declaram guerra aos Estados Unidos da América. Entretanto, a superioridade bélica do exército norte-americano, além das diversas doenças trazidas pelos brancos acabaram provocando a derrota dos indígenas.

“Cavalgando através de nuvens de poeira e desertos,
Galopando em disparada pelas planícies.
Empurrando os pele-vermelhas de volta a seus buracos,
Enfrentando-os em seu próprio jogo.
Assassinar em nome da liberdade, uma punhalada nas costas.
Mulheres e crianças, covardes atacam.

O Soldado azul no deserto estéril,
Caçando e matando por diversão.
Estuprando as mulheres e matando os homens,
Os únicos índios bons são domados.
Vende-se uísque para eles e rouba-lhes o ouro.
Escravizando os jovens e destruindo os velhos.”

Diferente do que ocorreu em países como o Brasil, não houve um processo de catequização da população nativa. Como a maioria dos colonos ingleses era protestante, acreditavam, segundo o calvinismo, na doutrina da pré-destinação. Ou seja, aquele que seria salvo já estaria determinado por Deus, não cabendo uma conversão a fim de salvar as “almas dos indígenas”. Da mesma forma, o trabalho no norte das colônias era, sobretudo livre, por ser baseado na pequena propriedade, no comércio e indústria. No sul, a utilização de mão de obra escrava negra em larga escala não criou a necessidade da escravização do indígena. Assim, quando começa a marcha para o oeste, não há nenhuma preocupação com a população nativa, que passa a ser dizimada impiedosamente.

“Corram para as montanhas, corram por suas vidas.”

The Trail of Tears (A Trilha de Lágrimas), de 1942. Pintura por Robert Lindneux (1871–1970).

Em 1855 o importante líder indígena, Ts’ial-la-kum, conhecido como cacique Seattle, ou Sealth, líder das tribos Suquamish e Duwamish, no que hoje é o estado americano de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado pelos índios;

Ts’ial-la-kum, Cacique Seattle, da tribo Suquamish (1786 – 1866)

“O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.

Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.

Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d’água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.

Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.

Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.

Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.”

Ts’ial-la-kum lutou por uma forma de acomodar os colonos brancos, criando uma relação pessoal com o Doutor David Swinson “Doc” Maynard, um dos pais fundadores da cidade de Seattle no estado de Washington, assim designada em homenagem a ele. Atualmente, os índios norte-americanos estão confinados a algumas reservas e muito de sua cultura se perdeu, irremediavelmente.

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