Camila Sant’Anna é artista curitibana que desenvolve diversos trabalhos relacionados à audiovisual, ilustração e literatura.
Entre roteiros, desenhos e filmes, Camila Sant’Anna também escreve poesia e crônicas. O NA-NU já divulgou o filme Bela Vaidade com roteiro e direção da artista no NA-NUTFLIX (e você pode conferir clicando aqui!) E agora você conhece um pouco mais sobre a artista com a crônica Rua Da Liberdade.
Rua Da Liberdade
Eu estava na terra dos sonhos quando ouvi chamarem meu nome. A curiosidade me acordou, vesti minh’alma sobre a pele pálida, olhei no espelho e fiz minha antiga pintura de guerra. Saí à procura daquela voz, era um dia frio e nublado. Uma música repetia e repetia dentro da minha cabeça. Os olhos encaravam a minha consciência. Meu sangue fervia pelo bom e velho Rock n’ Roll. Procurei pelos bares da cidade cinza. Os olhares me julgavam perdida, mas eu sabia o que procurava, sentia que estava perto de encontrar.
A chuva caiu, me abriguei no bar mais próximo e pedi uma Heineken. O samba tentava esquentar o lugar, logo percebi que era a única alma fria contemplando a chuva e não a música. Os olhos me julgavam novamente. Me desloquei dali antes que os olhares se alimentam da minha carne sangrenta e picante. Caminhei na garoa ouvindo a voz me chamar. Procurei por pistas, encontrei desenhos sombrios e macabros pendurados na parede de um estúdio de tatuagem. Nem as tatuagens são eternas.
Os olhos que abandonei no bar me encaram inconscientemente. A música repetia e repetia. Os olhos não piscam apenas me encaram. Comecei a cantar a música debaixo da garoa andando pela cidade e invocando os espíritos que me acordaram e me obrigam agora a seguir suas vozes e ser vigiada por olhos de outra dimensão. As poças na calçada eram portais para outra dimensão com espirais girando eternamente. Morcegos sobrevoavam minha cabeça, eu senti que alguém estava me olhando, mas ao meu redor havia somente uma noite monocromática de solidão, será que procuro em vão?
Tropecei em minha lucidez. Um arrepio gelou a espinha. Joguei a luz na escuridão de uma rua sem saída, iluminando uma menina, uma mulher, uma vadia, era eu mesma, era você, era uma e todas nós, me encarando com ternura. Em um piscar de olhos, meu clone havia sumido. O que antes apertava o meu peito, explodiu. A explosão acordou o terceiro olho entre os neurônios do meu cérebro. Em uníssono, o universo me convidou para viver a verdade eternamente.
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