Fundada em Curitiba, em 1977, a Grafipar foi uma espécie de continuação da editoral Edrel, a primeira grande editora de quadrinhos a sair do eixo Rio-São Paulo, surgida nos anos 60.
Segundo o Professor Ivan Carlo para o Guia de Quadrinhos do Paraná (1997), a Grafipar pagava bem. Os artistas ganhavam mais ou menos quatro vezes o salário de um jornalista. Isso também chamou a atenção dos escritores. A equipe de roteiristas da Grafipar tinha nomes como Carlos Chagas, Nelson Padrella, Ataíde Brás, Júlio Emílio Brás e o poeta Paulo Leminski.
Entusiasmados com o sucesso desta editora, vários desenhistas mudaram-se para Curitiba. Eles foram chegando e alugando casas próximas umas das outras, fundando na Vila Maria uma espécie de vila de quadrinistas. Entre eles Bonini, Franco de Rosa (que depois viraria editor da Press, Nova Sampa e Mythos), Gustavo Machado, Watson Portela e Flávio Colin.
Além destes Cláudio Seto, que era o responsável pelo setor de quadrinhos da Grafipar, e um dos mais importantes quadrinistas, criadores e incentivadores dos quadrinhos brasileiros. Seus trabalhos abrilhantaram centenas de títulos, de forma bastante eclética, desde Garotas e Piadas até A Folha de São Paulo, passando pelo emblemático Pasquim, Estórias Adultas, Humor Negro, Karatê 09, Maria Erótica e Ninja, o Samurai Mágico, o qual através da saudosa Edrel, em 1967, apresentava histórias de samurai muito antes do Lobo Solitário e do sucesso do mangá no Brasil.
Além dos veteranos Cláudio Seto, Flavio Colin, Luiz Rettamozo, Sérgio Lima e Shimamoto, a Grafipar revelou novos talentos como Mozart Couto, Watson Portela, Rodval Matias, Roberto Kussumoto, Franco de Rosa, Sebastão Seabra, Maurício Veneza, Itamar Gonçalves e diversos outros.
A primeira revista Peteca acabou virando uma revista masculina, com fotos de garotas nuas, mas Faruk El-Katib, o editor responsável pela editora, juntamente com seu irmão Faissal El-Katib, resolvem lançar a revista Eros, que trazia os primeiros quadrinhos eróticos, em histórias urbanas de crítica social e de costumes. Como uma outra editora tinha os direitos autorais sobre esse nome, então a publicação mudou de nome e passou a se chamar Quadrinhos Eróticos.
Essa mudança de nome, fez crescer as vendas, e o titular da Grafipar, Faruk El-Katib, então decidiu investir mais intensamente nessa área e diversos títulos foram lançados como: Perícia, sobre crimes, Neuros, de terror, e Próton, que misturava fantasia com ficção científica, na linha da revista estrangeira Heavy Metal. A revista Fargo publicava sobre faroeste. Sertão e Pampas narrava histórias que se passavam em todo país, e não só em Curitiba, expondo as culturas regionais em histórias fictícias, que supostamente aconteciam paralelamente a eventos históricos importantes, como o cerco da Lapa e a guerra dos Farrapos.
A editora Grafipar publicava uma quantidade e variedade enorme de revistas, não apenas de quadrinhos, tendo como principal fonte de renda o erotismo. Inicialmente, alguns desenhistas como Mozart Couto, que veio de uma família conservadora de Minas Gerais, se recusava a desenhar esse tipo de quadrinho, mas com o tempo acabou cedendo. Quase todas as histórias, incluindo as policiais e de terror, tinham toques de erotismo. Sem ser propriamente pornográficas.
A revista Horóscopo, de Rose Leminski, publicava quadrinhos baseados nos deuses do Olimpo. E Roberto Kussumoto, o desenhista desta revista, fazia Plutão com a cara do poeta Paulo Leminski, marido da editora da revista, Alice Ruiz.
Outra revista curiosa era a Super-Gay, um plágio do personagem Capitão Gay, criado pelo humorista Jô Soares para seu programa de televisão. Na revista, boa parte das personagens da DC e da Marvel ganhavam sua versão homossexual e foram criados heróis satíricos como o Aquagay, o Thorvelhinho, o Húlia e o Flashhomo. As poucas mulheres que apareciam também eram homossexuais. O desenho deste quadrinho era de Watson.
Outro grande momento da Grafipar foi a revista Fêmeas, que apresentava histórias de aventura com heroinas bárbaras, como Ulla, Maíra, Ssara e Hyania, que, entre uma aventura e outra, transavam com vilões, heróis e qualquer um que aparecesse pela frente. “O mundo de fêmeas era aquele no qual todo garoto gostaria de viver: muita aventura e mulheres bonitas” (CARLO,1997). Os responsáveis pela arte desta revista eram Mozart Couto e Rodval Matias.
A Grafipar também voltou a publicar em 1979 as histórias da Maria Erótica, em revista de mesmo nome, personagem de Cláudio Seto, lançada de 1970 a 1972, na extinta Edrel em São Paulo.
Segundo SETO (1993), toda vez que aparecia algum agente oferecendo uma revista estrangeira ao dono da Grafipar, Faruk El-Khatib, os editores faziam uma publicação parecida nacional e apresentavam a Faruk. Com essa estratégia, conseguiram que a editora publicasse apenas Histórias em Quadrinhos nacionais. Por exemplo, aproveitando o lançamento da animação longa-metragem da Heavy Metal, Cláudio Seto criou o Almanaque Xanadu, que trazia quadrinhos de Mozart Couto e Watson e matérias sobre a revista e o filme Heavy Metal.
A Grafipar desenvolveu principalmente títulos eróticos como Almanaque Aventuras Eróticas, Sexy West, Sexo Selvagem entre inúmeras outras, mas desenvolveu também revistas que tinham como temática as artes Marciais como a KIAi. Faixa preta em quadrinhos e infantis como a Passacor.
Um pouco antes de se extinguirem, as revistas da Grafipar começaram a trazer o selo Bico de Pena, uma espécie de subdivisão da editora, especializada unicamente em quadrinhos. Mas a editora encerrou sua atividades um pouco antes de completar cinco anos, graças a crise econômica que assolava o país na época. As últimas revistas foram publicadas em 1983. Muitos desenhistas foram para São Paulo ou Rio de Janeiro. Os roteiristas foram trabalhar com publicidade ou jornalismo. Os ilustradores que ficaram tornaram-se chargistas de jornais ou pintores. Alguns, como Rogério Dias, tornaram-se pintores famosos e reconhecidos.
Excelente matéria, mas gostaria de apontar o que considero uma grande falha: A não-citaçao do grande Luiz Rettamozo, o Retta (https://facebook.com/luiz.rettamozo), que foi desenhista quadrinista e ilustrador, editor, capista e redator de diversas publicações da GRAFAR (a capa da PROTON que ilustra a matéria muito provavelmente é dele, por exemplo). Fora isso, belíssimo trabalho pelo memória da hq brasileira.
Fala, Adriano. Tudo bem? Esse texto faz parte da pesquisa sobre a Historia dos Quadrinhos e da Gibiteca de Curitiba. A pesquisa engloba mais de 100 anos de quadrinhos, mas algumas coisas ficaram de fora. Mas a gente conhece o trabalho do Rettamozo e realmente e uma figura histórica do quadrinho curitibano. Vale uma coluna só sobre ele. Vamos providenciar.