Vida e obra de Paulo Leminski ganha série de homenagens com espaço cultural, estátua, festival e homenagens na Flip
A trajetória de Paulo Leminski, um dos mais importantes e influentes nomes da literatura brasileira, foi celebrada recentemente em uma série de homenagens que reforçam sua relevância histórica e legado. Poeta, romancista, compositor, tradutor e figura central da produção literária de Curitiba, Leminski foi celebrado recentemente com a inauguração de um espaço cultural permanente, uma escultura em bronze, festival, e a escolha como autor homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, em 2025.

Nascido em Curitiba em 1944, Leminski fez de sua vida uma busca pelo sublime. Seja pela procura religiosa, vinda da vontade de ser monge que o levou a passar parte da juventude em um mosteiro, até a filosofia zen que marcou sua obra, passando pelo minimalismo do dia a dia dos haicais. A forma poética japonesa, aliás, teve no autor um de seus grandes divulgadores no Brasil. Em 1975 começa uma série de lançamentos de trabalhos que se tornaram marcos na literatura brasileira com Catatau, em prosa, e dos escritos poéticos independentes Quarenta clics em Curitiba (com o fotógrafo Jack Pires) em 1976 e Não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase e Polonaises, ambos de 1980. A repercussão destes trabalhos foram base para o seminal Caprichos e relaxos (1983). Quatro anos depois lança seu último livro em vida, o cultuado Distraídos venceremos. Como tradutor, Leminski trouxe para nossa língua textos de autores plurais como Matsuó Bashô, Beckett, James Joyce e John Lennon. Como compositor, escreveu mais de 100 canções e teve suas composições gravadas por nomes como Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Ney Matogrosso, Paulinho Boca de Cantor, Guilherme Arantes, Moraes Moreira, Zélia Duncan, Arnaldo Antunes e a banda Blindagem. Em 2013, a carreira de Leminski ganhou um renascimento com a cultuada coletânea Toda Poesia, best-seller com as obras poéticas completas, organizada por Alice Ruiz, que acompanhou toda a produção de sua obra. Esse trabalho apresentou o autor para toda uma nova leva de leitores e se tornou inspiração para múltiplos criadores.

Uma destas belíssimas homenagens realizadas recentemente ao artista foi a inauguração do Espaço Paulo Leminski, dentro do Parque Jaime Lerner, que abriga a icônica Pedreira Paulo Leminski e a Ópera de Arame. Idealizado pelo Instituto Paulo Leminski em parceria com a gestão do parque, o novo espaço cultural abriga uma exposição permanente e inédita sobre a vida e a obra do autor. Dividida em três núcleos (Vida, Música e Literatura), a mostra reúne manuscritos, objetos pessoais, vídeos, áudios e experiências imersivas, proporcionando ao público um mergulho na produção vanguardista de Leminski. O espaço, em menos de um mês, já recebeu 40 mil visitantes. O projeto e execução tem expografia de Maria Baptista e apoio da Companhia das Letras, Positivo Tecnologia IA e Parque Jaime Lerner e patrocínio da Sanepar e Governo do Paraná.

“Pensamos em um lugar onde turistas, curiosos, pessoas de todas as idades possam mergulhar na vida e obra do nosso pai, que sempre foram uma coisa só”, afirma Estrela Ruiz Leminski, que assina a curadoria da exposição ao lado da irmã Áurea Leminski. Para Áurea, o espaço cumpre uma função importante para o público que visita a Pedreira: “Exibe e mantém ativo o legado do meu pai, principalmente para as novas gerações saberem da sua contribuição para a cultura brasileira”.
Curitiba também sediará a segunda edição do Festival Paulo Leminski, marcado para o dia 30 de agosto, novamente na Pedreira e desta vez com Lenine, Jards Macalé, Leminskanções e Raissa Fayet. A programação une música, poesia, arte e outras expressões culturais que dialogam com o espírito multifacetado do autor. O Festival Paulo Leminski tem patrocínio da Itaipu Binacional e apoio da Cerveja Praya, Fecomércio PR e Sesc, Fundação Cultural de Curitiba, Prefeitura de Curitiba e Secretaria de Turismo do Paraná.
O evento acontecerá poucos dias após a inauguração de uma escultura em bronze. A obra será revelada ao público no dia 24 de agosto – data em que Leminski completaria 81 anos – na Pedreira Paulo Leminski, um dos maiores palcos a céu aberto da América Latina. A obra, assinada pelo artista Rafael Sartori, retrata o poeta sentado em um banco de bar com um violão ao lado e foi desenvolvida a partir de imagens cedidas pela família, com o objetivo de transmitir a presença e a personalidade irreverente do autor.
Como o autor homenageado da Flip 2025, a celebração da obra do artista teve mesas esgotadas, 10% a mais de público que edições anteriores e foi o segundo autor mais vendido do evento. O que reforça o reconhecimento nacional da sua obra, que segue influenciando leitores e criadores de diferentes gerações. Em maio deste ano, Leminski recebeu in memoriam a honraria Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural, a mais alta condecoração cultural do Governo Federal.

Entre as figuras que celebraram essa conquista, Estrela Leminski destacou o entusiasmo que o pai teria sentido com a honraria: “Apesar de subversivo e sempre orgulhoso da sua produção marginal, meu pai era um grande entusiasta da própria obra. Se estivesse vivo, estaria completamente orgulhoso – e metido pra caramba – com esse reconhecimento”.
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