A atriz e dramaturga Carolina Lira, pioneira no formato de teatro via WhatsApp, combina intimidade e experiência sensorial em Mar Doce
Depois de mais de mil apresentações de Águas que Rolam e Quenturas, a atriz e dramaturga Carolina Lira refina o teatro via ligação de Whatsapp, linguagem em que a artista é pioneira e exploradora, em novo espetáculo Mar Doce. Em um contato direto e íntimo com o expectador, ela faz do que chama de ‘teatro de ouvido’ uma experiência sensorial.
A peça continua a história de Maria Júlia, uma mulher que lida com as complexidades da relação entre mãe e filha, afeto e desejo, solidão, busca por realizações pessoais e profissionais. Apesar de ser uma continuação, a atriz afirma que não é necessário ter presenciado a primeira experiência para a imersão completa, pois as peças funcionam independentemente e dialogam com temas universais que ressoam com as memórias da pessoa que está recebendo aquele telefonema.
“Demorei bastante para achar o tom desse novo trabalho” conta Carolina “Temas complexos como a maternidade e o envelhecimento fazem parte da minha trajetória como pesquisadora e acho essencial que eles sejam discutidos, tamanha a relevância social. A pergunta que motiva toda a dramaturgia é uma provocação: quem cuida de quem cuida? Essa pergunta serviu como mola propulsora para a criação da nova peça. As personagens são as mesmas, só que em outro momento de suas vidas.(…) Maria Júlia tem um olhar mais maduro sobre a vida, especialmente sobre as relações que se estabelecem entre as diferentes gerações, e traz percepções sobre identidade geracional ao mesmo tempo que preserva um pouco das características do seu passado.”
Este experimento teatral inovador surgiu como uma ideia para se manter ativa durante a pandemia e se tornou um sucesso. “Tenho muito carinho pela primeira peça e foi uma experiência maravilhosa ter apresentado para mais de mil pessoas. Cada vez entendo mais que o ritmo pode ralentar, respiro mais ao falar, faço pausas, como acontece em uma conversa com um amigo.”
Curiosamente, a interação não termina após o término da experiência. “Envio mensagens para a pessoa informando o final da apresentação, mas também convidando-a a mandar uma mensagem de texto, de áudio ou de vídeo, para mim, que estou ali aguardando”, explica Carolina, que chama esse desdobramento de “momento camarim”. “E é sempre surpreendente porque bastante gente liga e aí se inverte a relação, porque há muitas histórias, desde relacionamentos familiares, questões ligadas à criação artística e até amores que não deram certo. Acho que o próprio grau de intimidade, uma ligação telefônica ao invés de um palco de teatro, deixa as pessoas à vontade para se abrirem e o camarim vira o momento em que sou eu quem escuto”, reflete a artista.
Os interessados podem entrar em contato pelo Instagram ou via Whatsapp. A apresentação, que dura aproximadamente de 45 minutos, é realizada apenas para um espectador por vez, proporcionando uma conexão única entre a atriz e seu público.
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