Leia o poema La Muerte, de Lirah. Ilustrado com a pintura Catrina – La Santa de La Muerte de Guilherme Silveira Dias
La Muerte
Nessa manhã eu apaguei
Tão sublime a sacerdotisa fala comigo sussurrando coisas sobre morte
Você não aguentaria
Tão tênue a morte fala comigo
E sussurra coisas em uma língua que só eu entendo por aquela fração de segundos um recorte da existência
Mil pedaços de vidro quebrado
Ela é linda e fria e a voz dela não tem sexo
A voz não é ouvida com ouvidos nem sentida com o coração
É uma reverberação de nada um eco nas cavernas do meu corpo onde percebo estar oca
Ela ecoa muito alto até quase ficar inaudível e o incômodo é tanto que eu só consigo tremer e rezar
Mas rezar pra essa mesma coisa que esta me incomodando é um tiro na água
Apertar areia
O som sai do outro lado e eternamente ecoa cada vez mais baixo mas ainda está lá
A morte às vezes fala comigo e não fala que tudo está bem
Nem que vai ficar bem
Ela rasteja com classe
E entrelaça
Ela fala coisas tão impuras que me envergonha rubra a face que já não tem sangue
Me faz sentir uma serva louca e sozinha
Ela me mostra coisas que ninguém quer ver
Eu sinto ela com muita freqüência
E às vezes converso com ela em chamas
Mas ela é tão gelada que logo me esvaio e sorrio com medo
Oi de novo
Eu vim falar com você de novo
Mas Ainda não me beijou
Somente no meu rosto de cadela impura suada com o rosto inchado de chorar
Ela é tão doce que amarga a boca e diz bem no meu cangote na entrada do ouvido e eu escuto lá no lóbulo central: você está louca
E consegue em segundos trazer todas minhas confrontações existências e em frações de segundo me faz duvidar até mesmo do relógio
Mas eu ainda não estou louca
Tudo bem que nos cantos do meu quarto há sombras e demônios brincando entre si isso eu já acostumei… sei lidar
Tudo bem que as vozes vem e vão para me distrair
Não tem problema eu sonhas várias noites com meu íncubo particular
Tudo bem eu me perder por horas em pensamentos desconexos e repetidos
O problema é quando ela vem
E tudo fica frio mesmo no calor
E com q voz mais sensual rouca e entorpecente de k ela se apresenta pela milésima vez com outro nome mas eu já sei
E é tudo de novo
Em graus diferentes
Hoje foi pesado
Eu vi igrejas pegando fogo comigo dentro
Vi meu rosto inchar tanto que não consiga nem ligar pra alguém
Eu vi minhas mãos sacudindo de dor e em uma quase prece parar e começar de novo já resistindo porque não existe nem mesmo mão
Nem dor
Ela caminha no meu corpo fazendo uma cócega insuportável de plumas
E brinca com meus demônios particulares os leva para passear e da comida a eles
Para me deixarem a sós com ela
Sentada
Frente a frente
Uma maçã já comida e apodrecida
Nos meus dentes um pouco de batom vermelho mal passado
Na boca Dela escárnio
Na ponta do cigarro a brasa na outra batom caro
Não existe cinzeiro
Nem isqueiro
Ela me olha com aquele olhar que está em tudo
Na minha nuca eu sinto e minhas costas doem
Mas ela está frente a frente
Mas ela está em tudo cada átomo meu cada falha e sentimento que eu não conheço
Não existe olho mas existe olhar
E a cor é de cobre
O gosto é agridoce
De tanto medo travo
E escuto cada vibração
Que diz
Silêncio
E é aí que tudo começa
Congela
Não existe como descrever o que é sentir a morte em cada detalhe
E na calada da noite se sentir bem porque sabe que ela vem é com o amanhecer
E transar em becos só pra borrar a maquiagem
Cada vergonha ela vai te mostrar cada falha cada medo cada sonho ela vai quebrar e ela não vai embora até você enfrentar até dormir de exaustão corporal de tanto ter vomitado e chorado e gritado abafado
Aí suavemente você dorme tremendo
E quando acordar ela já tem um outro disfarce