Leandro Lopes é músico atuante da cena paranaense. Como músico, participou de importantes projetos como a Big Wilson Soul Band, Orquestra de Harmônicas de Curitiba, Mississipi da Silva e Little Wilson Trio. Gravou em 2012 o álbum Leandro Lopes e Sua Gaita Mágica. Por aqui no NA-NU, Leandro se apresentou no primeiro NA-NU na Bau com o Trio de Harmônicas de Curitiba, e no segundo evento em seu show solo, usando diversas gaitas e um pedal loop station. Por aqui também publicamos os vídeos que o Leandro faz usando a mesma técnica. Veja a conversa que nosso colaborador André Nigro teve com esse artista sobre sua carreira, começando cheio de história com a banda Acesso Verde.
Como começou a tua história na música?
Começou quando eu era pequeno. Minha família é de uma igreja evangélica. E lá eu tive esse contato com a música por causa da banda da igreja. Eu comecei cantando, aí depois passei pro violão e toquei bateria aos 9 anos de idade. Aí lá pros 15 anos de idade eu retomei, comecei a gostar de novo. Vim pra Curitiba, que tudo isso foi em Belo Horizonte, e comecei a montar bandas. E assim foi.
Qual que foi a primeira banda que você montou?
Osso Duro. Não que eu montei, né? Era uma banda que já tinha e precisava de um vocalista. Aí me chamaram. Era Punk Rock. Mas eu fui em dois ensaios só e me chutaram. Porque o baixista que era vocalista não gostou muito de perder o posto. A gente era moleque naquela época. Eu cantava Punk Rock, e não sabia, né? Era horrível na verdade… mas, a gente tava lá.
Mas e aí quando você começou a tocar?
Eu já tocava umas músicas, com revistinha e tal. Isso desde a época da adolescência, eu não cheguei a parar. Sempre tirava uma musiquinha ou outra. Aí eu tive outra banda, que não vou lembrar o nome agora, que eu tocava. A gente chegou a tocar em alguns lugares e tal. Aí comecei a ter mais contato com o violão e com a música mesmo. Aí comecei a tirar Led Zeppelin. O Fábio Nogueira, que era guitarrista me passava uns blues também, aí comecei a gostar de blues.
Foi aí que começou o negócio com o blues?
Foi aí que começou. Aí veio a banda Acesso Verde, que era uma banda de blues e Rock. Então já foi pro lado blues. Apesar da gente não ser muito blues na época, era mais o guitarrista. Mas como a gente achava legal, acabamos virando uma banda de blues. Gravamos um CD, que fez um certo sucesso. A galera chegou a conhecer a banda. A gente lançou um CD, na época não era todo mundo que lançava CD. Parece que eu sou velho, mas isso até pouco tempo, né? A época do CD foi muito curta, se você for ver, né? E você poder gravar em casa, isso faz pouco tempo. Hoje todo mundo consegue gravar em casa. Então a gente teve que ir num estúdio gravar. Aí quando saiu o CD, a gente dava. Não sei se vendia, acho que a gente só dava mesmo o CD. E a galera começou a aprender e cantar as músicas.
Como você via o público de vocês? Você falou que o CD fez um certo sucesso, como era a cena da época?
Pra gente que tava começando, qualquer coisa era ótimo. Então tinha uns barzinhos ali na frente da PUC. E a gente começou a tocar ali. Na época, quando você é jovem, vai quinhentas pessoas no show. Porque são todos seus amigos, mais os amigos dos amigos, dos amigos, dos amigos… só de amigos. Aí começou a cair na boca da galera. E a gente começou a lotar esse barzinho na frente da PUC. Aí tinha outro bar, que abriu o olho e chamou a gente pra tocar lá. Aí tocamos lá e o cara do outro bar não gostou. Aí a gente falou “Tá, mas o cara lá dá um litro de Wiskey, dez cervejas, cinco x-saladas e mais vinte reais”. Aí o outro: “Bom, então eu dou isso aí, vinte e cinco reais e mais uma porção de batata frita”. Aí na outra semana o outro cara vinha, e foi subindo. A gente não chegou a ganhar dinheiro, um cachê legal. Mas bastante comida e bebida a gente ganhava. E público, porque a gente tava tocando direto. Na Universidade Federal também tinha um evento de biologia que acontecia toda sexta. Então a gente tocava lá também no centro acadêmico. Aí a banda começou a ficar conhecida. E chegou o ponto de abrir pro IRA, duas vezes, no Moinho São Roque. Em 2000 e 2001. Eram composições próprias. Foi bem legal. A gente não sabia que era difícil. Porque pra gente não era difícil, tinha som, tinha público, tinha shows… só não ganhava dinheiro. Mas não precisava também aquela época. (risos)
E como que foi essa experiência de abrir pro IRA?
Aí foi a primeira experiência profissa! A gente chegou pra passar o som: “O que é passar o som, cara?”. O técnico ali, e a gente ficou esperando. E o técnico lá mexendo na mesa. “Porra, esse cara tá sacaneando a gente, cara”. A gente não sabia que tinha todo um processo, de ligar os PAs, testar os PAs… Aí a gente acabou ligando pro contratante: “Pô, esse cara aqui não quer trabalhar”. De tão inocente que a gente era. Aí o cara foi falar e o técnico falou “to trabalhando aqui!”. Aí acho que o contratante falou pra ele “faz alguma coisa aí só pra acalmar eles”. Aí ele veio com uma prancheta, anotou nossos nomes. “Você, qual o seu nome? O que você toca? E você? E você? Beleza… agora espera aí que a gente já começa tá?”. Aí esperamos, esperamos. Passamos o som e fomos pra casa. Quando foi tocar a noite e o som super baixinho. Baixinho, baixinho. Quando entrou o IRA o som alto pra caralho (risos). Mas foi bem legal. A gente tinha camarim, com nossas coisas e tal.
E nessa época você já sabia que ia seguir a carreira de músico?
Já, já sabia! Sempre Soube. Essa banda Acesso Verde teve um tempo de vida muito curto. Foram o que? Quatro anos no máximo. Mas parece que aconteceu tanta coisa. Um dia a gente tava gravando na casa do João (Marcelo Gomes), que era da banda e tinha um estúdio em casa. Aí a gente pensou “De repente podia botar uma gaita aqui, né?”. Aí já peguei a gaita e fiz um solinho ali, meio no improviso, e ficou legal. Aí que comecei a focar mais na harmônica. “Agora eu sou vocal e gaita”. Aí que eu fui aprender, fui atrás. Pegava o CD do Blues Etílicos e ficava tentando tirar as músicas e tal. Ver como que faz o bend. Aí veio o Mississipi da Silva. Me chamaram pra tocar nessa banda, que era uma banda de Blues. Aí começou a ficar sério. Mas que eu fui estudar mesmo, só depois. Isso aí tudo foi só de ouvido.
E foi com o Mississipi da Silva ou com o Acesso Verde que rolou o contato com o Psicodália?
Com o Acesso Verde. Quando o Psicodália ainda era na Lapa. A gente tocou em uns dois festivais lá. No finalzinho da banda, quando eu já violão, voz e gaita.
Aí um tempo depois, Big Wilson…
Depois do Mississipi da Silva, veio a Big Wilson. Na Big Wilson eu entrei meio de pára-quedas. Porque queriam metais na banda. Mas aí iam ter que chamar três. Aí falaram que a gaita fazia acordes também. Aí me chamaram pra fazer os metais da banda na gaita. E foi bom, porque eu tive que desenvolver tudo. Pra tocar todos aqueles arranjos na gaita eu tive que dar uma trabalhada.
O que acabou sendo um diferencial na banda, né? Uma banda de soul com a harmônica. E como era pensar nos arranjos com uma banda tão grande? Que tinha teclado, tinha guitarra, metais…
No começo quando não tinha metais era fácil, porque eu fazia a linha dos metais, só que na gaita. Depois que entrou os metais que começou a ficar mais complicado. Porque aí tinha que ver onde que era o buraquinho certo que entrava a gaita, pra não cobrir os metais, não cobrir os vocais… Ver o lugar que dava certo ali. Aí que foi mais trabalhoso. Mas foi natural também. Acontecia e tocava. Mas eu tinha dificuldade sim.
E quando você começou a ideia de fazer um disco teu?
Nessa época da Big Wilson. Porque eu comecei a perceber que eu perdi muito espaço nas músicas. Eu tocava pouco. Aí resolvi fazer um disco instrumental com a gaita sendo o principal.
E você já tinha essa ideia de chamar tanta gente diferente pra participar, tantos instrumentos?
Não. Eu cheguei e gravei em casa o violão e a gaita. Aí eu fui fazendo o arranjo assim. Eu gravava mais uma gaita pra fazer uns naipes. Fazia o arranjo que eu queria. Aí, quando eu fui lá pro Hermann (Ruthes) que começou a aparecer mais idéias de chamar a galera. Até por incentivo dele. Porque no começo, eu tava pensando que a banda teria quatro gaitistas. Porque eu tinha feito os arranjos todos só com gaita. E a gente ficou um bom tempo gravando. Então a cabeça muda nesse tempo. Eu gostei do resultado.
E onde que entra o Littlel Wilson Trio nessa história toda?
O Little Wilson é a maior escola na verdade. Porque você ali tocando a tanto tempo, toda semana, ao vivo, em três, formação roots, aí que começa a desenvolver, né? Porque no começo eu lembro que não era muito legal. Os fraseados das gaitas. Mas aí a gente vai desenvolvendo os arranjos junto com os outros. Aí sim, começa a ficar bom.
E como que aconteceu com a Orquestra de Harmônicas de Curitiba?
Aí eu já tinha gravado o disco, já tava pra esse lado da cromática. E a Indiara (Sfair) tinha acabado de entrar na Orquestra e tinha comentado de mim. Aí já me chamaram. Cheguei lá mais perdido que azeitona na boca de banguela. Tinha a partitura na minha frente lá e tinha que tocar. Lá não é uma escola, é chegar e tocar e acabou. Aí começou outra etapa que foi tocar com partitura. E tocar outros tipos de gaita também.
E quando você fala de “outros tipos de gaita”, quantos tipos tem? Fala um pouco dessa parte técnica.
Cara, gaita tem muitos tipos. Gaita trompete, ela tem uns trompetinhos saindo dela. Mas as mais usadas são a gaita diatônica, que é a gaita de blues, a gaita cromática… aí vem a polifonia, gaita de acordes, gaita baixo, a harmoneta, que parece uma máquina de escrever, tem vários tipos. Eu tento quebrar também esse negócio de “a gaita tem que ser no blues”, “gaitista de blues”, ou “gaitista bossa nova”… não cara, gaita é gaita. Se eu quiser tocar pop rock na gaita, eu toco. Não tem ninguém que me segure. Se eu for pensar o que os outros gaitistas vão pensar de mim, aí eu vou ser mais um gaitista de blues nesse planeta.
E de todas essas gaitas, quais você curte mais curte tocar?
Cada uma tem sua pegada. Não tenho nenhuma favorita. Tem algumas que tenho mais facilidade, mas eu tô buscando facilidade nas outras também. No Little Wilson por exemplo, eu posso até usar uma gaita baixo. Mas a que eu mais vou usar é a gaita de blues, porque o estilo é aquele. O negócio, pelo menos pra mim, é saber tocar todos os tipos. Vou passar a vida inteira pra aprender, mas é isso. Aprender a tocar todos os tipos e escolher a gaita certa para a música certa.
E esse teu projeto com os vídeos? Tem a ver com a coisa de fazer arranjo com gaitas diferentes?
Tem sim. Como que eu vou tocar todas essas gaitas? Como eu vou mostrar o som particular que eu quero? Aí eu peguei o pedalzinho loop station, e comecei a brincar ali. Aí que começou esse negócio de fazer vídeo. Eu comecei a fazer som ao vivo com esse pedal e vi que dava certo. Aí o pessoal aceitou legal e pretendo fazer mais. Mais vídeos com loop, e também com arranjos, usando todas as gaitas. E mais surpresas ainda vão surgir.
Até agora a gente falou da sua carreira como músico, e como que é o lado professor?
Faz parte, né? Pra quem vive de música, dar aula faz parte. E são poucos professores gaitistas. Então começou a demanda de dar aula, escolas me ligando. Eu aceitei uma, aí outra escola apareceu, e tá indo. Antigamente eu já dava aula de gaita, aí parei um tempo. Agora retomei com força. Tô escrevendo um método pra diatônica, que é o mais procurado. Logo logo vai estar aí.
E você também produz o Circuito Musical de Morretes. Como que surgiu essa ideia e como que é o trabalho que vocês realizam por lá?
O Raimundo Rolim começou com tudo isso. Começou tocando num restaurante, sem equipamento, era violão e voz à capela. Aí o dono viu e colocou um equipamento lá. Aí o outro restaurante do lado gostou. Aí o Raimundo chamou outro cara, que era o Naldo Miranda. Aí um tocava num restaurante e o outro no outro. Um dia fazendo um intervalinho eles resolveram trocar. Ali começou o circuito. Aí quem tava almoçando ali via duas atrações diferentes. Começou a ficar interessante. Aí eu e o Gustavo Daher fomos lá pra Morretes porque a gente tava iniciando um projeto chamado Gaiteiros do Brasil que é uma dupla de gaitas. E a gente ficava ensaiando em casa, saia e tocava na rua. A gente ia ali nos barzinhos que tem na São Francisco, ficava tomando cerveja e tocando gaita. A galera aceitou muito bem. “Vamos lá pra Morretes, fazer esse som lá”. O dono de um restaurante viu a gente tocando na rua e chamou a gente pra tocar. Aí a gente já começou no giro. Já tinham três restaurantes girando as atrações. Agora tem vários restaurantes e vários pontos onde a gente toca lá. Pousadas, espaços culturais, coreto. Até no rio a gente faz som também, na gôndola. É um projeto que tem futuro e a gente tem investido bastante.
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