No último episódio de Star Trek – Discovery, Into The Forest I Go, ocorreu o primeiro beijo na série entre duas pessoas do mesmo sexo. Veja aqui no NA-NU como a franquia acompanhou a discussão sobre diversidade afetiva.
A série Star Trek abordou diversos temas sociais ao longo de mais de cinquenta anos, treze filmes, sete séries televisivas e uma série de animação. Foi pioneira em representar membros de grupos minoritários de maneiras não estereotipadas. Chamou atenção também por abertamente discutir direitos civis em uma época onde tais questões começavam a ser debatidas pela sociedade, porém ainda considerados temas sensíveis. A série se mostrou à frente do seu tempo apresentando personagens femininas em posições de poder, em apresentar o primeiro beijo interracial da história da TV americana, em abordar questões ambientais e dialogar a respeito de questões interpessoais, afetivas e de relacionamento e família.
Em sua encarnação mais atual, Star Trek – Descovery, a série apresenta pela primeira vez um casal homoafetivo, o membro da Frota Estrelar, Paul Stamets, especialista em fungos e micro-biologia, e seu parceiro, Dr. Hugh Culber, médico da nave RRS Discovery. O casal também foi protagonista do primeiro beijo entre dois homens na série. Porém isso não quer dizer que Star Trek não tenha abordado a questão da diversidade afetiva em seu passado. Ao longo dos anos, o universo trekker utilizou criativamente a biologia alienígena a posição humana frente às questões de sexualidade e gênero. Neste post, apresentamos alguns exemplos de quando a série se aventurou onde nenhum outro programa de TV teve a ousadia de ir antes.
A troca de sexos foi explorada em Star Trek, a série original, de 1966, no episódio Turnabout Intruder, onde Dra Janice Lester troca de corpo com capitão Kirk. Também no episódio Body and Soul, de Star Trek – Voyager, onde O Doutor, médico holográfico da nave descobre sensações humanas ao trocar de corpo com a borg Seven of Nine, inclusive a experiência de sentir atração por Jaryn, uma fêmea Lokirrim. No episódio Profit and Lace, da série Star Trek – Deep Space Nine, apresenta o alienígena Ferengi, Quark, em uma mudança de sexos, durante uma trama envolvendo os direitos das mulheres Ferengi.
Em Star Trek – Enterprise, fomos apresentados aos Denobulanos, uma espécie humanoide e ciente, cuja cultura é poligâmica. Cada Denobulano do sexo masculino pode ser casado com até três esposas, enquanto essas podem ter até mais três maridos. A sexualidade e estrutura familiar dos Denobulanos é um exemplo da diversidade cultural e comportamental das culturas fictícias apresentadas no universo trekker.
Em alguns casos, a relação entre pessoas do mesmo sexo pode ser vista como “acidental” dentro da trama. Em The Host, episódio da série Star Trek – The Next Generation, a Dra Crusher se apaixona pelo embaixador Trill, Odan. Trills são uma forma de vida simbionte, que divide sua personalidade com a do corpo habitado consensualmente. Quando o corpo hospedeiro é ferido, Odan é transplantado para o comandante Riker, e eventualmente para um novo hospedeiro, Kareel, uma alienígena fêmea. Dra Crusher se sente confusa com a situação e ao final do episódio conclui: “É um erro humano, pois não estamos acostumados com estas mudanças. Talvez um dia nossa habilidade para amar não seja tão limitada”.
Em Rejoined, episódio de Deep Space Nine, Jadzia Dax outra personalidade conjunta da especie Trill, reencontra Kahn, sua antiga amante. Porém o relacionamento das duas é condenado pela sociedade Trill, não por ambos estarem ocupando corpos femininos, mas porque simbiontes Trill são proibidos de retomarem relacionamentos após trocarem de corpos, sob a ameaça de exílio.
No episódio Chimera, de Deep Space Nine, Odo encontra pela primeira vez outro membro da espécie transmorfa dos Fundadores, da qual faz parte. Apesar de não abordar a questão homossexual, o episódio utiliza a relação entre os dois alienígenas para mostrar situações como; encontrar alguém semelhante quando se sente diferente de todos, lidar com comportamento público e com o preconceito de amigos.
O episódio The Outcast, de The Next Generation, apresenta os J’naii, espécie alienígena que não possui definição de masculino e feminino. As discussões sobre amor e gênero se tornam mais evidentes quando comandante Riker se apaixona por Soren, membro da especie. Soren confessa ao comandante que alguns membros de sua especie sentem inclinações para uma identidade sexual masculina ou feminina, porém tal comportamento é veementemente condenado pela sociedade J’naii, que vê a divisão em gêneros como algo primitivo. Por seu relacionamento com Riker, Soren é condenada à um tratamento de recondicionamento, muito semelhante à “cura gay” apresentada por grupos conservadores da nossa sociedade.
Em Star Trek – Enterprise, no episódio Stigma, a série faz uma analogia à perseguição à comunidade gay, resultada do pânico causado pela epidemia da AIDS nos anos 80. A trama do capítulo envolve a sub-comandante T’Pol, que contrai a síndrome de Pa’nar, transmitida através de uma “fusão mental” forçada (uma obvia analogia ao estupro). A fusão mental é uma pratica condenada pela sociedade Vulcana. T’Pol é condenada pela violência que sofreu e culpada por sua própria doença.
A controvérsia e a censura dos estúdios de TV impediram que, no passado, Star Trek representasse melhor as questões envolvendo relacionamentos homoafetivos e as questões que acompanham o tema. Porém agora com Discovery, Stamets e Culber, a série mostra que mesmo tantos anos depois continua quebrando paradigmas, atravessando fronteiras e espalhando mensagens de paz e prosperidade.
A relação e episódios assim como parte das informações neste post foi retirada do vídeo Gays, Lesbians & Star Trek, do canal do youtube Trekspertise. Você pode conferir o vídeo completo aqui:
Para mais arte, cultura e entretenimento, continue NA-NUZEANDO